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Sou realmente um desafinado

Impedido de festejar o 25 de Abril em anos transactos por não ter passado antifascista devidamente certificado e com ficha na PIDE, pensava que este ano, em pleno “Estado de excepção” estava automaticamente dispensado de arranjar desculpas por não ir para a baixa de cravo ao peito. Enganei-me. Então não é que se lembraram de convocar as pessoas para este sábado, pelas 15 horas, ir para a varanda cantar “Grândola, Vila Morena” chegando ao ponto de terem editado uma cábula, manual de instruções, desenhos e a letra? Para mim, que já na escola primária nas aulas de canto coral, o maestro me tinha classificado como desafinado impedindo-me de cantar no coro na Igreja de Trindade? Em pânico, recorri ao Google para ver se conseguia afinar a voz em tão pouco tempo, mas era necessário recorrer a uma app de Percepção Musical versão Apple e Android, tecnologias que não domino. Não desistindo, encontro mais à frente instruções de “respiração diafragmática”. Quase desmaio. Logo eu, com problemas de desvio do septo e com pólipos nasais? Definitivamente alguém me deitou o mau-olhado. Não querem de forma alguma que eu festeje esta data tão importante, este ano apenas festejada pela classe dirigente privilegiada, que existe, apesar do 25 de Abril 74. Sou realmente um desafinado.

Jorge Morais

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