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Análise

Pensemos no futuro

Pensar o futuro é um acto altruísta. E como contamos na edição de hoje, decidimos fazê-lo em nome dos madeirenses inconformados e conscientes que às frases feitas do género “não vai ficar tudo bem” e “tudo será diferente” importa acrescentar esperança, solução e rumo.

Mesmo que continuemos a acumular factos sobre aquilo que o coronavírus e o estado de emergência estão a esconder, mesmo que muitos prefiram ser reféns da demagogia do que aliados da revolução, mesmo que nos possam criticar a ousadia, decidimos lançar um ciclo alargado de conferências destinadas a encontrar referências para tanta incerteza, muito mais do que as necessárias linhas de crédito que se gastam num instante e não chegarão a todos.

Em boa hora o fizemos. “Uma vez que a pandemia existe, temos de a enfrentar”. A ordem foi dada ontem pelo Presidente da República. Finalmente. Pode ser que assim alguns acordem para a vida, sobretudo os que andaram entretidos com os “absurdos” e com discussões estéreis em torno das sessões comemorativas e das baldas populistas. Como lembrou e bem Marcelo Rebelo de Sousa “o 25 de Abril é um apelo, em liberdade e democracia, a resolver os problemas do momento e neste momento os problemas são saúde, economia e sociedade”. Coisas bem diferentes e para análise noutros divãs são as petições on-line dos extremistas, as crises de identidade de políticos sem palco e os estados de alma de meia dúzia de mimados que estão sempre no lado oposto da realidade, qualquer que ela seja, mesmo que caiam em contradição, porque é a única forma que têm de se fazerem ouvir na praça vazia.

Urge antecipar soluções. Mesmo que a máscara tapasse a ira, Pedro Calado não escondeu a frustração que o pior cenário económico gera a qualquer madeirense que se preze. Os indicadores geram apreensão: “No  cenário mais gravoso, se a pandemia não recuperar no 2.º semestre levando a períodos mais longos de contenção, a queda do PIB pode ser ainda maior e atingir os 23%. A taxa de desemprego poderá crescer em 11,5 pontos percentuais, e atingir os 18,5% em 2020, para mais de 25.000 pessoas”. Mesmo que nem sempre tolere os nossos incómodos, o ‘Vice’ tem toda razão para não conter a revolta que devia transformar em argumento para pôr a economia a mexer. Importa começar a governar num novo contexto, a criar regras transversais e a ser mais exigente. Se todos os que têm capacidade produtiva e são responsáveis continuarem a ficar em casa à espera de vacina ou de pastilhas, de milagres e de decretos, não viveremos muito, mesmo que passemos os dias a contar testes e casos.

Neste cenário onde já se notam muitos acomodados, saudamos os que arriscam partilhar ideias ou os que recuperam teses outrora desvalorizadas. É gratificante ter todo o sector turístico a trabalhar num plano que sustente a retoma, onde se inclui a nova fórmula de subsídio à mobilidade interna. Só que pensar o futuro é ter memória. Para que se faça justiça e dê o seu a seu dono. A 16 de Novembro passado, em pleno congresso da APAVT no Funchal, o hoteleiro André Barreto, defendeu que todos os portugueses deveriam passar a ter direito ao subsídio de mobilidade de modo a nimar o mercado interno. Não deixa de ser irónico que quem agora dá vivas à proposta que Miguel Albuquerque assume ter enviado a António Costa tivesse na altura desconsiderado “a ideia peregrina”!

Neste contexto de crise, a comunicação social resiste e dinamiza um virar de página consciente, mesmo que também suplique por ajuda. Tenham paciência mas são precisos apoios urgentes, antes que mais meios adoeçam e outros morram, porque as audiências aumentaram, mas as receitas desceram abruptamente. Quase todos concordam com uma injecção já anunciada, embora insuficiente, assente na compra de publicidade institucional por parte do governo no valor de 15 milhões de euros, o que dá umas migalhas quando o bolo for dividido a centenas de projectos. Quase. Rui Rio está contra e considera injusto que o Governo dê apoios a um dos sectores de actividade que não seu entender não é prioritário. O presidente do PSD tem todo o direito de não gostar de jornais e de jornalistas. Essa é uma guerra que é sua e com muitos anos, pois critica com frequência os órgãos de comunicação social e até já disse que tem sido prejudicado por estes. Não é o primeiro social-democrata com tamanha aversão. Mas devia ser consequente e pedir que os media ignorem as excentricidades PSD. Restava-nos tempo e dinheiro para deste partido só darmos o que, por nossa iniciativa, é decisivo para o futuro colectivo.

Já que que falamos de um pilar essencial da democracia conquistada, no dia em que renovamos os compromissos de Abril, ficamos a saber que a liberdade de expressão e o direito à informação voltaram a ser postos em causa na Madeira. Desta feita, por via de ataques informáticos inqualificáveis aos conteúdos informativos disponibilizados através do domínio ‘jm-madeira.pt’, conforme deu ontem conta a direcção do JM. Neste DIÁRIO repudiámos este expediente que atenta contra a democracia e contra o jornalismo, manifestámos solidariedade aos profissionais que ficaram privados de mais um meio de partilha de informação e garantimos toda a disponibilidade para cooperar com o JM de modo a que fosse encontrada uma solução rápida para o problema que enfrentaram. Ontem a vítima foi o JM, mas hoje podemos ser nós. E como o combate a todo o tipo de delinquência nas redes e na Internet é uma causa comum, contem todos com a nossa determinação na luta contra quem quer ter caminho livre para fazer patifarias.

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