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A Guerra Mundo

Chuva e aviões militares interrompem silêncio numa Kiev quase deserta

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Chove em Kiev, coberta por um céu cinzento e chuva miúda e persistente que se abate sobre uma cidade quase deserta e em profundo silêncio, apenas perturbado pelo ruído de aviões militares que espaçadamente cruzam os céus, invisíveis.

"É incrível, ainda nem acredito, porque é horrível. Invadir o nosso país no século XXI é insano e deve ser travado de qualquer forma", diz Kostia, que sobre apressado uma alameda, telemóvel na mão. Perto, apenas o ruído das sirenes de um carro da polícia, ou de uma ambulância.

"Não sei ainda como parar esta guerra, temos de pensar nisso mais tarde, mas agora temos de defender o país, defendermo-nos a nós, e todos devem fazer o que puderem pela Ucrânia".

Kostia, um homem de meia-idade que diz ser jornalista, talvez caminhasse apressado para a sua redação. Está convencido que o país vai resistir, que advertência do Presidente russo Vladimir Putin para que os soldados ucranianos deponham as armas não sucederá.

"Isso não vai acontecer, são oito anos de guerra, os militares sabem quem é o verdadeiro inimigo, não queremos viver sob ocupação. Se desistirem, e não acredito que aconteça, se Putin capturar a Ucrânia haverá repressão, e será duro. Quando pensamos nisso, a reação deverá ser erguermo-nos e combater".

Kostas admite que a guerra possa alastrar a Kiev, que não se retenha nas regiões do Donbass que o exército russo parece pretender conquistar na totalidade, incluindo a estratégica cidade portuária de Mariupol, junto ao mar de Azov que dá acesso ao mar Negro.

"É possível que chegue a Kiev, não temos a certeza sobre isso, mas penso que os nossos militares farão o melhor possível para proteger o país".

Ao longe, a praça Maidan é apenas atravessa por uma ou duas pessoas, apressadas. Alguns carros cruzam a avenida. Que contraste com o dia anterior, em que o sol iluminava a cidade mergulhada num trânsito caótico e com gentes pelas ruas.

Frente ao grande hotel Ukraine, o centro comercial não abriu portas. No átrio do edifício acumulam-se malas, material de reportagem. Chegam táxis, ou veículos de transporte privado. "Estão todos a partir?" "Ainda não mas preparamo-nos para isso", diz uma jornalista francesa junto à sua câmara de filmar.

Hoje, chove em Kiev, e a guerra está quase à porta. Como sempre esteve, nos últimos oito anos.