Amnistia Internacional anuncia suspensão das suas actividades na Índia
A organização não-governamental (ONG) Amnistia Internacional (AI) anunciou hoje a suspensão de todas as suas operações na Índia, depois de as suas contas bancárias no país terem sido congeladas "pelo Governo indiano".
"O congelamento total das contas bancárias da Amnistia Internacional Índia pelo Governo indiano, algo que foi conhecido em 10 de Setembro, interrompeu completamente todo o trabalho que a organização estava a fazer" no país, declarou a AI num comunicado.
De acordo com a nota, diante dessa situação "de incessante caça às bruxas por acusações infundadas contra organizações de direitos humanos", a Amnistia Internacional "viu-se obrigada a despedir o seu pessoal na Índia e a suspender todo o seu trabalho de investigação e campanhas em curso".
No comunicado, o director-executivo da Amnistia Internacional India, Avinash Kumar, insistiu que "a pressão contínua nos últimos dois anos" e o congelamento das suas contas por supostas irregularidades na captação de recursos "não é algo acidental".
Para Kumar, "o constante assédio por agências governamentais" ocorre devido à recente pressão da AI e de outras organizações para que a polícia e o Governo indiano respondam às "graves violações dos direitos humanos" na Caxemira indiana e nos recentes confrontos em Nova Deli.
Os confrontos de Fevereiro na capital deixaram mais de 50 mortos e, embora as autoridades indianas culpassem os grupos de esquerda por incitarem a revolta, organizações como a AI acusaram pessoas próximas do partido nacionalista hindu (BJP, do primeiro-ministro indiano, Narandra Modi) de fazerem um discurso de ódio, destacando a falta de resposta da polícia.
O pano de fundo da agitação estão os protestos contra a polémica Lei da Cidadania, promulgada pelo Governo de Modi e aprovada pelo Parlamento indiano em dezembro, que acelera a cidadania para imigrantes de países vizinhos, mas exclui imigrantes muçulmanos.
Além disso, a AI criticou muito as limitações das liberdades impostas pelo Governo na Caxemira indiana, como cortar a internet ou a telefonia móvel e limitar os movimentos, para evitar possíveis protestos contra a decisão unilateral do Executivo de retirar o estatuto especial que possuía a região.
Enquanto o Governo de Modi defende que a retirada desse estatuto especial significaria uma aceleração da modernização da Caxemira, os críticos veem na decisão uma forma de alterar a demografia da única região com maioria muçulmana na Índia.
O diretor-executivo da AI concluiu que o objectivo final de tratar os integrantes da ONG como "criminosos" serve para "alimentar o clima de medo e desmantelar as vozes críticas na Índia".
"Para um movimento que não faz mais nada que lutar contra a injustiça, este último ataque é semelhante a um congelamento da dissidência", enfatizou Kumar.