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Ramalho Eanes recorda “exemplo ético” do general Loureiro dos Santos, seu “irmão por opção”

Foto  Gerardo Santos/Global Imagens
Foto Gerardo Santos/Global Imagens

O ex-Presidente da República António Ramalho Eanes lembrou ontem, emocionado, o general Loureiro dos Santos, seu “irmão por opção”, sublinhando a sua personalidade “de excelência”, como militar e académico, e como “exemplo ético”.

Ramalho Eanes recordou e elogiou o percurso do antigo ministro da Defesa e ex-Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), “o seu propósito de excelência”, como “aluno, professor, como militar, nas suas missões e nas funções que resolveu exercer”, e o seu “exemplo ético”.

O “exemplo ético”, disse, manifestou-o Loureiro dos Santos ao deixar o cargo de CEME, por causa da chamada “lei dos coronéis”, que impunha a reforma antecipada de dezenas de oficiais.

“Entendeu que, para continuar, tinha que trair a confiança dos seus homens. Por isso, entendeu não continuar”, afirmou o ex-Presidente, em declarações à Lusa e à RTP, na sua residência, em Lisboa.

Ramalho Eanes citou palavras de Loureiro dos Santos, numa biografia da autoria da jornalista Luísa Meireles, em que o considerou “irmão por opção”.

“Para mim, ele é também é assim uma espécie de irmão por opção”, disse o general, visivelmente emocionado.

O general Ramalho Eanes lembrou que conheceu Loureiro dos Santos na Academia Militar, que ambos frequentaram, e voltaram a cruzar-se após o 25 de Abril de 1974, o golpe que derrubou a ditadura e instaurou um regime democrático.

“A partir daí houve uma convivência muito grande e tive ocasião de ver como aquele meu camarada de escola se tinha transformado num grande profissional e num intelectual muito importante”, disse.

Quando se reencontraram, concluíram que “havia uma certa semelhança na maneira de encarar” o que se estava a passar para que “o grande propósito de Abril fosse realizado”, ou seja “m propósito democrático, de devolver ao povo português o poder de decidir”, disse.

O antigo CEME teve um papel “particularmente importante” e uma “participação significativa na preparação e desenvolvimento do 25 de Novembro” de 1975, as movimentações militares que opuseram a esquerda militar e o chamado grupo dos “moderados”, onde estavam Eanes e Loureiro dos Santos, e que ditou o fim do período revolucionário.

António Ramalho Eanes sublinhou também a ação do general para “proceder à institucionalização democrática das Forças Armadas” no pós-25 de Novembro.

O general José Loureiro dos Santos, antigo ministro da Defesa Nacional e ex-chefe do Estado-Maior do Exército, morreu este sábado em Lisboa, vítima de doença.

Nascido em Vilela do Douro, concelho de Sabrosa, no distrito de Vila Real, em 2 de Setembro de 1936, José Alberto Loureiro dos Santos foi ministro da Defesa Nacional entre 1978 e 1980 nos IV e V Governos Constitucionais, chefiados por Carlos Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo, ambos executivos de iniciativa presidencial de Ramalho Eanes.

Militar do ramo de artilharia, Loureiro dos Santos foi vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, em 1977, e Chefe do Estado-Maior do Exército.

O velório do general Loureiro dos Santos vai realizar-se este domingo, a partir das 16h00, na Capela da Academia Militar, em Lisboa, onde amanhã, às 09h30, será celebrada missa de corpo presente, após o que o funeral sairá para o cemitério de Carnaxide, no concelho de Oeiras.