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Marcelo diz que jornalismo perde “referência” de memória e ética com morte de Veiga Pereira

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O Presidente da República lamentou hoje a morte do jornalista Carlos Veiga Pereira, sublinhando que, “numa altura de crise”, a comunicação social perde “uma das suas referências de memória, cultura e valores éticos”.

Numa mensagem divulgada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa lamenta a perda do “amigo de longa data”, que dedicou “uma vida inteira” ao jornalismo.

“A comunicação social portuguesa fica mais pobre”, afirma o chefe de Estado, que endereça condolências à família e aos camaradas de profissão de Carlos Veiga Pereira, que, desde a última actualização, detinha a carteira profissional número 01A.

Com uma carreira totalmente dedicada ao jornalismo, Carlos Veiga Pereira foi director de informação da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e da RTP. Um dos seis jornalistas eleitos em abril de 1975, por sufrágio directo, para representar a classe no Conselho de Imprensa, funções que exerceu gratuitamente até 1981, foi o primeiro presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas (SJ), no biénio 1991/92, órgão de que continuou a ser membro até hoje. Aliás, ainda nas últimas eleições, em 2018, integrou a Lista A para o Conselho Geral do SJ.

Em 1998, foi eleito pelos jornalistas detentores de carteira profissional para a Alta Autoridade para a Comunicação Social, cargo que desempenhou até à extinção deste órgão.

Preso em 1951, juntamente com Agostinho Neto, quando pertenciam ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, devido a um abaixo-assinado pela paz, Carlos Veiga Pereira foi enviado, em 1953, como soldado para a Companhia Disciplinar de Penamacor, por apoiar os movimentos de independência das colónias portuguesas.

Opositor ao regime do Estado Novo, é dele a pergunta que, numa conferência de imprensa, deu origem à célebre resposta do general Humberto Delgado: “Caso seja eleito, o que faria em relação a Salazar? Obviamente demito-o”.

Nascido em março de 1927 em Sumbe (antigo Novo Redondo), em Angola, Carlos Alberto de Veiga Pereira era filho de um funcionário administrativo e de uma professora primária, e cedo revelou gosto pela escrita literária e jornalística.

Ainda no liceu, foi director e redactor de “Mefisto”, periódico editado por um grupo de alunos do Liceu Nacional de Salvador Correia, em Luanda, um jornal que não estava submetido ao controlo dos docentes. No liceu, estabeleceu laços de amizade com Agostinho Neto, Lúcio Lara e Eduardo dos Santos.

Na Universidade de Coimbra, foi editor da “Via Latina”, órgão da Associação Académica da Universidade de Coimbra, e director de “Meridiano”, órgão da delegação da Casa dos Estudantes do Império (CEI), a primeira publicação editada em Portugal pelos estudantes das colónias.

Frequentou depois a Faculdade de Ciências de Lisboa, onde teve uma intensa actividade na Associação de Estudantes, e, como diretor da secção cultural, promoveu conferências de intelectuais e exposições de artistas plásticos como Mário Dionísio, António Sérgio e Júlio Pomar.

Ingressou no jornalismo em 1954, na delegação de Lisboa de “O Primeiro de Janeiro”, e foi um dos fundadores do Diário ilustrado (1956), com Miguel Urbano Rodrigues, Victor Cunha Rego e José Manuel Tengarrinha, tendo coordenado o Suplemento Económico até à intervenção das forças da ditadura do Estado Novo.

Redactor do jornal República (1957/1958), do Diário de Lisboa (1959/1961), onde foi chefe de redacção, do Jornal Novo, do semanário Jornal de Letras e Artes, foi também colaborador da agência noticiosa France Press e fez parte da redacção do mensário Seara Nova, de tendência socialista e democrática, numa colaboração cívica sem remuneração.

Esteve exilado durante dez anos, em Paris (1962/1972), onde tirou o curso do Institut Français de Presse, trabalhou no Centre de Formation des Journalistes e depois na ORT (Office de Radiodifusion et Télévision Française), e também colaborou com o “Le Monde”.

Em Paris, foi representante da Frente Patriótica de Libertação Nacional e fundador e dirigente do Movimento de Acção Revolucionária (MAR).

Regressa a Portugal em outubro de 1972, durante a primavera marcelista, e é depois nomeado director de Informação da RTP, cargo de que se demitiu em outubro de 1976, na sequência de pressões políticas do governo PS.

Trabalhou na ANOP, como redactor e director de informação, entre 1979 e 1992, altura em que se reformou. Era casado com a professora catedrática e historiadora Miriam Halpern Pereira.