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Mais de 80% dos jornalistas sentiram necessidade de formação na última década

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Mais de 80% dos jornalistas sentiram necessidade, na última década, de obter formação complementar tendo em conta a evolução do sector, segundo um relatório do Observatório da Comunicação (OberCom) a que a Lusa teve acesso.

“No inquérito foi questionado se, tendo em conta a evolução do jornalismo nos últimos 10 anos, os jornalistas sentiram necessidade de obter formação complementar ligada a essa área. Como se verifica, a grande maioria -- mais de 80% -- respondeu afirmativamente, apontando claramente para a necessidade que os jornalistas têm sentido no que concerne a um maior acompanhamento e actualização profissional para se manter a par da evolução das práticas jornalísticas”, lê-se no documento.

De acordo com o relatório “O que devem saber os jornalistas? Práticas e Formação em Portugal”, questionados se nos últimos cinco anos receberam algum tipo de formação, 56,1% dos inquiridos, responderam afirmativamente.

Neste período, a maioria (64,7%) referiu ter recorrido a formação complementar, directamente ligada ao jornalismo ou não, por iniciativa própria e 29,3% referiram tê-lo feito por iniciativa da empresa.

Apenas 3,4% declararam ter sido tanto por iniciativa própria como da empresa e 1,7% responderam ter sido através da universidade.

Tendo em conta os inquiridos que responderam ter obtido formação complementar nos últimos cinco anos, 47,4% dizem não ter recebido qualquer apoio por parte da empresa para a qual trabalham ou trabalharam.

Dos que receberam apoio, 29,3% referiram que a empresa os apoiou em grande medida.

Por sua vez, 23,3% afirmaram que, apesar de terem recebido apoio da empresa, não terá sido o que “poderia/deveria”.

No que respeita às habilitações literárias, 37,7% dos inquiridos detêm uma licenciatura de quatro a cinco anos e 20,8% um bacharelato ou uma licenciatura, enquanto 15,7% dizem ter um mestrado, 15,3% apenas o ensino secundário e 4,2% são doutorados.

Verifica-se que a maioria (39,8%) tem como formação académica Ciências da Comunicação ou Comunicação Social e Jornalismo (25%), enquanto as restantes formações são mais reduzidas, com destaque para História com mais de 4%.

Em termos de vínculo profissional, quase 60% (58,9%) têm actualmente um contrato sem termo, 23,3% trabalham como ‘freelancers’, 12,3% a termo certo, 8,5% como colaboradores e 3% são estagiários profissionais ou curriculares.

No que se refere ao tipo de órgão para o qual trabalham, 64% responderam ser de cariz nacional, 17,8% referiram ser regional ou local e 18,2% notaram que tal questão não se aplica, “podendo isto dever-se ao facto de estarem ligados a meios de comunicação social ‘online’ ou de não terem uma ligação fixa a nenhum meio”.

Paralelamente, os jornalistas foram questionados sobre a influência das ‘fake news’ (desinformação) na confiança dos cidadãos no sector.

“Perguntados se a disseminação das ‘fake news’ tem contribuído para uma menor confiança dos cidadãos no jornalismo, as respostas são claras. A grande maioria [dos jornalistas inquiridos] concorda de alguma forma com a afirmação, com 34,1% a concordarem totalmente”, revelou o OberCom.

Segundo o documento, esta desconfiança constituí assim “um exemplo claro de uma falha entre as instituições que de algum modo produzem informação, no sentido lato, e o lado que as recepciona, que reage com desconfiança em relação à mesma”.

Para a realização deste relatório, o OberCom e o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) realizaram, entre novembro e dezembro de 2018, um inquérito ‘online’ que contou com a resposta de 236 jornalistas.

A maioria dos jornalistas que respondeu ao inquérito é do sexo masculino (50,4%) e está entre os 36 e os 55 anos (54,9%).

O OberCom é uma associação sem fins lucrativos, que tem como uma das principais missões analisar a comunicação social portuguesa.