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Directora-adjunta da RTP diz que problema é transformar jornalismo num valor económico

Helena Garrido particupou, sábado, no colóquio “Sete vidas - o futuro do jornalismo”, em Lisboa

Foto Arquivo/DR
Foto Arquivo/DR

A directora-adjunta da RTP Helena Garrido apontou ontem que o grande problema do jornalismo é “transformar o valor social num valor económico”, no colóquio “Sete vidas - o futuro do jornalismo”, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

“O jornalista não tem de entender os investidores. O jornalismo tem interesse público. O grande problema é transformar o valor social num valor económico e financeiro”, considerou Helena Garrido, num debate sobre negócio e independência do jornalismo.

Para Helena Garrido, o jornalismo não é um negócio, realçando que o negócio faz parte das empresas de comunicação, que têm o objectivo de obter lucros.

“O jornalismo em si não é e nem pode ser um negócio. Não deve ser o jornalista preocupado em reproduzir resultados. Não é prioridade. O médico não está a pensar se vai haver perdas. Tem de salvar as pessoas. O professor tem de ensinar e o jornalista relatar os factos. O jornalista não tem de entender os investidores”, frisou.

Em relação à independência no jornalismo, a directora-adjunta da RTP declarou que, “do ponto de vista filosófico, ninguém é independente”, havendo sempre uma influência do passado ou uma história.

Por seu lado, António Carrapatoso, principal accionista do jornal digital Observador, referiu a importância de haver saúde financeira no sector da comunicação social, anotando que o jornalismo não é um negócio muito rentável em Portugal

Para o accionista, há um “abandono de valores”, “paga-se mal” e muitas vezes “há muitos projectos que morrem, por não haver resolução das empresas”, além de, segundo o qual, haver um problema na “dimensão do mercado”.

De acordo com António Costa, jornalista do Eco, o problema do jornalismo é receita e onde se pode ir procurá-la.

“É um problema de receita, sobretudo a curto prazo. Os leitores têm uma concorrência mais forte do que há cinco anos. Podem escolher o que gostam de ler. Os leitores têm mais possibilidade de encontrar melhor informação”, disse, explicando que nos países onde há mais subscritores de plataformas digitais, como o Spotify e a Netflix, há mais assinaturas de jornais.

No debate, Mário Ramires, diretor do Sol e do I, realçou ainda que o jornalismo tem de ser sustentável, preocupando-se com aquilo que considerou ser o ‘fake market’.

“As audiências são ‘fake’. O mercado publicitário é ‘fake’. Eu não vivo de receitas que não entram. Tenho de ter dinheiro”, apontou.

O colóquio “Sete vidas - o futuro do jornalismo” decorre este fim de semana no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde é discutido o futuro do jornalismo português, dividido em sete debates.

Para este domingo, os restantes três painéis, onde se falará de “A Angústia do Jornalismo: dar aquilo que as pessoas querem, ou aquilo que os jornalistas julgam que elas precisam?” (das 15h0 às 16h30); “Tecnologia e as Redacções - haverá jornalismo no século XXII?” (das 16h45 às 18h15); e “O Que se Pede ao Jornalismo num Mundo em Crise?” (das 18h30 às 20h00).