País

Brexit contribui para queda de 85% das inscrições de enfermeiros portugueses no Reino Unido

FOTO Lusa
FOTO Lusa

A incerteza relacionada com o ‘Brexit’ está a contribuir para a queda acentuada do número de enfermeiros portugueses que chegam para trabalhar no Reino Unido, que desceu 85% nos últimos três anos, segundo números da ordem dos enfermeiros britânica.

De acordo com números obtidos pela agência Lusa junto do Nursing and Midwifery Council (NMC) [Conselho de Enfermagem e Obstetrícia, a entidade reguladora da profissão], o número de novos registos de enfermeiros portugueses entre Março de 2018 e Março de 2019, o último período disponível, foi de 155.

Este número representa apenas 15% dos 1.064 enfermeiros portugueses inscritos nos 12 meses até Março de 2016, três meses antes do referendo no qual 52% dos eleitores britânicos votaram a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

A tendência acompanha aquela registada pela generalidade dos enfermeiros dos países da UE, cuja inscrição no NMC, obrigatório para exercer no Reino Unido, encolheu 90% desde os 9.389 em 2015/16 para 968 em 2018/19.

“O ‘Brexit’ tem certamente alguma influência nesta redução, mas, mais do que o processo em si, acredito que se deve principalmente à incerteza relacionada com o mesmo. Os profissionais de saúde não sabem ainda com que contar num futuro próximo e isso gera alguma insegurança”, disse à Lusa Nuno Pinto, responsável de formação da agência de recursos humanos Vitae Professionals.

A incerteza está também a levar muitos enfermeiros europeus a deixarem o Reino Unido, o qual disparou para mais de três mil anualmente desde 2016, tendo o ‘Brexit’ sido referido num questionário do NMC como a segunda principal razão, enquanto a maioria respondeu apenas que tinha decidido sair do país.

O serviço nacional de saúde britânico tem feito esforços no sentido de colmatar a falha de dezenas de milhares destes profissionais de saúde, recrutando fora da UE, com destaque para as Filipinas e Indonésia.

O NMC anunciou também que, no caso de um ‘Brexit’ sem acordo, as qualificações dos enfermeiros europeus serão reconhecidas nos dois anos seguintes, e muitos hospitais britânicos têm apoiado os seus funcionários europeus no processo de candidatura ao estatuto de residente.

No final do ano passado, o organismo actualizou também os requisitos linguísticos do acesso à profissão, baixando a nota do exame necessária, uma barreira que Nuno Pinto considera que foi o factor principal para a redução na chegada de enfermeiros portugueses ao Reino Unido.

“A complexidade do exame e o elevado nível requerido serviu para afastar muitos enfermeiros interessados, com bom nível de inglês mas que simplesmente não conseguiam atingir os níveis requeridos”, explicou este antigo especialista em cuidados intensivos, que exerceu no Reino Unido durante uma década e foi cofundador de uma associação de enfermeiros no estrangeiro.

Esta medida já teve efeitos, acredita o responsável da Vitae, refletidos pelo número de inscrições no NMC, que passou de 91 em 2017/18 para 155 em 2018/19.

Apesar do impasse com o ‘Brexit’, fonte da Ordem dos Enfermeiros portuguesa disse à Lusa que o Reino Unido continua a ser o principal destino dos enfermeiros que emigram para trabalhar, e a Vitae é apenas uma das várias agências dedicadas ao recrutamento de enfermeiros para o estrangeiro.

“A procura por parte dos empregadores [britânicos] continua ao mesmo nível, senão mais acentuada, dada a imensa lacuna de profissionais de saúde no país. Temos como exemplo contratos contínuos com quatro grandes empregadores do NHS [serviço nacional de saúde] que nos pedem uma média de cinco a dez enfermeiros por mês, não só de Portugal mas de toda a Europa”, adiantou Nuno Pinto.

A saída do Reino Unido da UE, que estava prevista para 29 de Março, foi prorrogada para 31 de Outubro deste ano.