Crónicas

Verdes por fora, vermelhos por dentro

Os partidos tradicionais, sobretudo os democrata-cristãos, sociais-democratas e socialistas, não souberam incorporar no seu ideário as preocupações com o Meio Ambiente

Há hoje um desfasamento entre o que são as preocupações e os interesses de vastos setores sociais e aquilo que é falado e defendido pela maioria dos políticos. Tudo muda a uma grande velocidade, fruto da evolução tecnológica, mas os regimes, os sistemas e as instituições políticas são criações dos séculos passados. O Mundo muda, mas a Política não acompanha as transformações que vão ocorrendo nas comunidades. É verdade que, por vezes, os partidos até assumem determinadas bandeiras nalgumas áreas que emergem no seio das comunidades, mas o facto de não encontrarem logo uma correspondência eleitoral, fá-los deixá-las cair com o passar do tempo. O melhor exemplo será o da Ecologia. Durante anos, sobretudo nos anos 70 do século passado, este foi um tema muito presente na discussão política, com a emergência de organizações e partidos “Verdes”, alguns genuínos, outros criados ou capturados pelo movimento comunista internacional e pela antiga União Soviética. “Verdes por fora, vermelhos por dentro como as melancias” - dizia-se na altura a propósito destas formações políticas. O seu aparecimento e auge ocorreram aquando da instalação de misseis norte-americanos nalguns países europeus e, em particular, na Alemanha. Com o colapso da URSS e do comunismo, os “Verdes” caíram no descrédito e as questões ambientais foram abandonadas, pese embora já serem visíveis algumas das consequências das alterações climáticas no nosso dia a dia.

Os partidos tradicionais, sobretudo os democrata-cristãos, sociais-democratas e socialistas, não souberam incorporar no seu ideário as preocupações com o Meio Ambiente e durante largo tempo esta questão crucial para a sobrevivência do Planeta esteve entregue a pequenas organizações não governamentais, enquanto cientistas e Governos não se entendiam sobre as causas do aquecimento global e as medidas para reduzir as emissões de carbono. O Acordo de Paris foi, apesar de tudo, o compromisso possível, mas uma esperança para o Mundo. A eleição de Donald Trump que rasgou esse Acordo e as resistências chinesas e de outros países a cumprirem as metas estabelecidas para reduzir as emissões de Co2, comprometem um desenvolvimento mais sustentável e mais amigo do Ambiente.

O CDS na Madeira sempre teve como uma das suas Causas a Defesa do Ambiente, por um lado porque a agricultura e a floresta foram questões muito caras ao partido e depois porque muitas das suas posições formam inspiradas no pensamento e nos ensinamentos do engenheiro Rui Vieira que teve uma vida dedicada ao equilíbrio dos ecossistemas, à fauna e à flora regionais e à necessidade de manter o que ele tão bem batizou de “paisagem humanizada” da Região, essencial à nossa sobrevivência e suporte do turismo, o nosso principal setor económico.

No Parlamento, ao longo de décadas, apresentámos inúmeras propostas para a criação das Reservas Agrícola e Ecológica e para a elaboração dos Programas de Ordenamento da Orla Costeira. O nosso último Programa de Governo, sujeito aos madeirenses nas eleições de 2015, dedicava uma parte substancial às matérias do Ambiente. Portanto, o nosso interesse por esta nobre Causa não tem nada a ver com o bom resultado de um determinado partido nas últimas europeias, se bem que, também na área animal, a primeira “lei” que proibiu o abate de animais domésticos saudáveis foi apresentada e aprovada na Câmara do Funchal por um vereador do CDS e feita tendo por base um documento do ativista Henrique de Freitas e das Associações de Defesa dos Animais. Isto apesar de não podermos confundir a causa animal com a causa ambiental que é bem mais vasta e abrangente e os seus problemas são de uma complexidade à escala planetária. mais complexa. E quando o CDS defendeu a existência de zonas de pastoreio ordenado na Madeira, a determinadas cotas, avalizada aliás por cientistas e ambientalistas, fê-lo pondo sempre em primeiro lugar a defesa da Flora e da Floresta.

Quando o CDS fala em Sustentabilidade, fá-lo para todas as áreas, pois essa deve ser a base de qualquer boa governação desde as Finanças ao Ambiente. Se esta última área ganha agora maior relevância, iss o tem a ver com o que vemos e sentimos todos os dias em todos os continentes e cujas consequências já nos bateram à porta, com fenómenos extremos, como aconteceu com a trágica aluvião de 2010 ou os incêndios de 2013 e 2016.

A Estratégia de Adaptação da Madeira às Alterações Climáticas identifica os impactos e vulnerabilidades do arquipélago, como o aumento da temperatura, a diminuição da precipitação, a redução significativa dos caudais das nascentes, a subida do nível do mar, o risco de cheias, o aumento dos fogos florestais, a ocorrência de deslizamento de terras escarpas, o aparecimento de novas doenças transmitidas por vetores (mosquitos), o aparecimento de novas pragas na agricultura e na floresta e a redução da biodiversidade. Não temos planeta B nem Ilhas B e é por isso que um partido responsável, como o CDS, só poderia ter a área do Ambiente como um eixo prioritário do seu Programa de Governo.