Crónicas

Pela sua saúde

1.Livro: Lembro-me, perfeitamente, de ter ido ler “A família de Pascual Duarte”, quando o espanhol Camilo José Cela ganhou o Nobel da Literatura, um escritor que desconhecia na altura. É um livro que se lê depressa. Envolve-nos numa teia de brutalidade que nos conta, numa penada, a vida de um camponês do interior profundo de Espanha. Um excelente livro para ler numa tarde de férias.

2. Disco: e se, ao fim de tantos anos, Carlos Santana tiver a capacidade de se reinventar sem sair daquilo que nos deu nesse álbum genial de 1970 que dá pelo nome de “Abraxas”? É que isso, para mim, aconteceu mesmo. Refiro-me ao último trabalho do guitarrista mexicano que conta com a colaboração de Concha Buika e produzido pela batuta do génio de Rick Rubin. Vai tocar muito, nos próximos tempos, no meu Spotify.

3. As pessoas, quando acometidas da responsabilidade de quererem tomar nas suas mãos os destinos da governação, expõem-se e têm a obrigação de responder pelo que dizem. Com toda a clareza, e por mais de uma vez, Paulo Cafôfo disse que os tais “75 Milhões eram para fechar os Marmeleiros, comprar um hospital novo e, assim, acabar com as listas de espera”. A isto, não há volta a dar.

Era expectável que, dada a enorme confusão, se tentasse dar a volta ao prego. Mas isso aqui não pega.

Se o dito já espantava, a tentativa de explicação tresanda a estuporação.

Estrategicamente, em termo políticos, era melhor não voltar a tocar nisto, com a esperança que o assunto caísse no esquecimento. Mas não. Persistem no atoleiro.

Afinal, parece que os tais de 75 milhões de euros, tirados da cartola, são para pagar cirurgias. Agarrou-se naquele valor e, através de umas contas de somar e de sumir e uns pozinhos de perlimpimpim, conseguiu-se chegar a um montante que continuamos a não saber de onde vem. Pergunto: seria pedir muito que explicassem, “item” a “item”, como descobriram os números que indicam em cada uma das especialidades das listas de espera? Acho que gostávamos todos de saber.

Mais, essas operações serão feitas onde? No Hospital ou vão ser contratualizados privados?

E termino voltando às perguntas que fiz há umas duas semanas: são conhecidos pela candidatura do PS os valores das frequências de entrada nas listas? Ou as de saída? Não será o primeiro passo fazer com que as saídas das listas sejam superiores à entrada? Daqui até que se inicie este procedimento, está proibido deixar entrar mais pessoas no sistema impedindo que este continue a aumentar? No dia em que os 75 milhões estiverem disponíveis deixam de entrar pessoas nas listas de espera? Se anunciam o quanto, isso é sinal de que já sabem as respostas às sacramentais perguntas que deixei: o quê, quem, porquê, onde e como?

Aguardemos... sentados!

4. A resposta do PSD/Governo Regional a isto, é ainda mais estapafúrdia. À falta de jeito do PS, responde o Sr. Secretário Regional da Saúde, Pedro Ramos, com uma verdadeira tontice: “Não investimos esse dinheiro em apenas 20 mil pessoas. Seria criminoso (...)”.

5. Fui assistindo, via “net”, aos Estados Gerais socialistas sobre a saúde. Os diagnósticos ali ouvidos estão feitos há muito tempo: é pelos cuidados primários que se evita a doença, os continuados têm de ser uma aposta, as altas problemáticas são um problema que urge resolver e nem todas resultam de abandono, etc. Esperemos que o cabeça de lista socialista tenha aprendido alguma coisa, para que não volte a tropeçar em ditos sem sentido.

Falou-se muito pouco do Novo Hospital. Uma unidade à volta do qual se devia construir o novo paradigma para a saúde. Sem resolver, a montante, os problemas de que o SRS enferma, nunca a unidade hospitalar poderá funcionar como topo da pirâmide.

6. Pedro Calado reagiu à reunião socialista defendendo o mais do que doente SRS que, se ainda funciona, isso se deve muito mais a quem trata do que a quem gere. Se tem alguma razão em dizer que é um pouco ridículo virem para aqui figuras gradas do PS fazer críticas quando ao nível nacional as coisas não estão de todo melhores, perde-a toda quando afirma que a saúde regional “está bem e recomenda-se”. Isto quando ainda nem tem muito tempo que o Presidente do Governo saiu da região para se deslocar a Lisboa por causa de um problema de saúde. Ridículo.

7. O Helicóptero de combate aos fogos, o tal de que se dizia não ser necessário, nem poder operar na Madeira, já chegou!

E os mesmos que o não queriam, fazem agora uma festa.

Enfim.

8. Finalmente, resolveu-se o caso Ribeira Seca. D. Nuno Brás levantou a suspensão aplicada ao Padre Martins. Já era tempo de se acabar com o absurdo. Se há erros de um lado, que isso não sirva para justificar os erros do outro.

9. A talho de foice, e mais uma vez, aqui deixo a lembrança do Seminário da Encarnação a ver se o Sr. Bispo também dele se lembra. É que o que lá se passa, ou melhor: o que lá se não passa, é uma vergonha. Sou “ex-seminarista”, pois, estudei lá quando era anexo do Liceu. Um dos melhores anos da minha juventude.

Uma Igreja que tudo quer tudo deve perder. Foi para isto que tanto reclamaram a devolução do edifício? A diocese devia ter vergonha!

10. “600 Anos, 600 Músicos” foi um espectáculo integrado nas comemorações dos 600 Anos. Infelizmente não tive oportunidade de o ver, mas há coisas que têm que ser relevadas: o arrojo, a ambição, o querer. Juntar 600 músicos num único evento é obra. Infelizmente, e há última hora, a RTP/M não transmitiu o espectáculo, não permitindo, assim, que o mesmo pudesse chegar a muito mais gente.

11. “A humanidade só saiu da barbárie mental primitiva quando se evadiu do caos das suas velhas lendas e não temeu mais o poder dos taumaturgos, dos oráculos e dos feiticeiros. Os ocultistas de todos os séculos não descobriram nenhuma verdade ignorada, ao passo que os métodos científicos fizeram surgir do nada um mundo de maravilhas. Abandonemos às imaginações mórbidas essa legião de larvas, de espíritos, de fantasmas e de filhos da noite – e que, no futuro, uma luz suficiente os dissipe para sempre” - Gustave Le Bon