Crónicas

Os Cavaleiros da Tábua Rasa

Se chegamos até aqui foi graças ao trabalho pensado e às estratégias desenvolvidas durante décadas! A Madeira não começou em 2015, nem tão pouco foi descoberta por engravatadinhos obcecados com quadros e números.

No virar da página, 2018 afigura-se como o ano do tudo ou nada. São muitos os desafios previstos, são muitas as aspirações e metas a alcançar. Em termos políticos, será um dos anos mais decisivos de sempre. O PSD de Miguel Albuquerque tem pela frente 12 meses alucinantes para mostrar o que vale, justificar a vitória alcançada em 2015 e para credibilizar a grande bandeira social-democrata na Região. É uma prova de fogo se tivermos em consideração as condicionantes que o trouxeram até aqui. A desagregação interna provocada pela debandada de militantes que viraram independentes, ameaça fazer ruir (qual castelo de cartas) uma das estruturas que, em tempos, foi uma verdadeira fortaleza. A juntar a estes, é preciso não esquecer os últimos acontecimentos em algumas concelhias, onde a perplexidade foi tanta perante «prémios» atribuídos a gente contestada, presidências ganhas por derrotados nas autárquicas, que a indignação falou mais alto que a disciplina partidária. Portas a bater, pedidos de desvinculação enviados por carta registada, críticas e acusações surgem para dar razão àquele que não se pode dizer o nome (o tal que foi alvo de uma tentativa de esquecimento por parte de gente azeda).

Erros de casting, promessas coladas ao tecto, remodelações, nomeações, inaugurações (bem poucas tendo em conta o ritmo a que estávamos habituados) e uma imagem pública que caiu, pelos piores motivos, em desgraça na boca do povo. O presidente da câmara outrora sorridente, parecido «com nosso senhor Jesus Cristo», como muitas idosas o chamavam, passou de bestial a besta. Já não tem aquela aura que o aproximava da dita divindade. Ao invés, há quem goze descaradamente dos alegados vícios que, inclusivamente, já provocaram o aparecimento de artigos de opinião aguerridos, em defesa da honra do líder madeirense.

E será que tem razão um social-democrata que, numa das reuniões magnas, gritou bem alto que a luta se faz nas redes sociais?

Em 2018 teremos um PSD à procura do Norte, sob o olhar atento, crítico e influenciador do ex-líder que foi banido, ignorado, maltratado, votado ao esquecimento, qual leproso perigoso. Uma estratégia levada a cabo por aqueles que acham possível apagar a memória, a vida e a obra de alguém que continua bem presente no dia a dia dos madeirenses e que faz questão de mandar as suas habituais papaias. Será que o ouvem?

Os encalhados, expulsos, rejeitados, vulgarmente chamados de ressabiados, mostraram a sua força nas últimas autárquicas e suspeito que vão continuar a querer mostrar que ainda são válidos neste ou naquele projeto político.

Depois temos uma tentativa de dar um novo fôlego ao Governo com a entrada de uma espécie de Sir Lancelot (quem será o Merlin que o guia?), responsável por áreas tão importantes para o desenvolvimento da Madeira. Vamos a ver se o estado de graça, associado à capacidade, prevalece. Apesar de em política tudo ser possível, o certo é que a sorte não dura para sempre. Há que arregaçar as mangas e trabalhar afincadamente. E escusado será dizer que não vale a pena bradar aos céus que se trabalha das 9:00 às 21:00, quando os resultados são fracos e aquém das expectativas. A título de exemplo e sobre o ferry, cujo concurso foi prolongado porque não apareceram propostas, há que aprender com quem sabe ou ir aos arquivos da Vice-Presidência e ver o trabalho feito. Não basta abrir concursos e ficar confortavelmente à espera que as coisas apareçam. Se queremos resultados, há que levantar o rabinho da cadeira e “bater punho” como Miguel Sousa fez, por exemplo, nos anos 80, com a Zona Franca da Madeira. O então vice-presidente percorreu o mundo a promover, informar, dar a conhecer o projeto. Arrastou comitivas intermináveis para a Madeira e conseguiu resultados francamente positivos. O mesmo se fez no Turismo pela mão de João Carlos Abreu e em tantas outras áreas. Se chegamos até aqui foi graças ao trabalho pensado e às estratégias desenvolvidas durante décadas! A Madeira não começou em 2015, nem tão pouco foi descoberta por engravatadinhos obcecados com quadros e números. O ferry não é um capricho ou uma teimosia de meia dúzia que só quer ir passear. É um direito que nos assiste não querermos continuar reféns de um único meio de transporte e de potenciarmos e diversificarmos a nossa economia no que diz respeito aos transportes.

Nessa ida aos arquivos, já agora convém ler a brilhante apresentação que Francisco Santos, o então secretário regional da Educação, fez num painel num dos Congressos do PSD, sobre a importância e a forma como se devem aproveitar e rentabilizar as ligações marítimas para o desenvolvimento económico. Se queremos que resulte, temos de promover, dar a conhecer, publicitar, cativar. As coisas não caem do céu e nem sempre a fama do Ronaldo resolve...

Pipocas ou tremoços? 2018 promete ser um ano intenso para os Cavaleiros da Tábua Rasa.

Nos restantes partidos, os desafios também estão aí à porta. A vontade leva-me a dar o espaço seguinte para o PS, mas pensando bem, este já não é o maior partido da oposição. Apesar de alguns socialistas cantarem de galo, o certo é que conseguiram a proeza de serem ultrapassados por um CDS que apesar das esporádicas contestações internas, soube cerrar fileiras e reconstruir a sua fortaleza. Com uma liderança morna, gelatinosa e insípida, este é um partido que tem de saber encontrar a sua chama, impulsionar o crescimento e actuar como uma verdadeira alternativa.

E agora sim, o PS e a sua disputa pela liderança. Há uma frase que o povo diz e com razão: quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré. Carlos Pereira é contestado internamente. Tem uma imagem que não cativa e não convence muitos militantes. Emanuel Câmara, o outro candidato, é visto como o melhor dos piores nesta corrida. Quer abrir portas, tipo mordomo, e estender a passadeira vermelha a Paulo Cafofo em 2019. Uma estratégia questionável, mas legítima. O PS terá de escolher entre duas lagartixas que querem ser jacarés, enquanto o tal D. Sebastião permanece confortavelmente na penumbra do nevoeiro.

2018 será também um ano decisivo para um Bloco de Esquerda que percebeu que está a perder terreno. O aparecimento da candidatura do Paulino Ascenção visa dar um novo fôlego a uma organização política que vive à conta da mística do passado “udepedista” e das novas aragens nacionais.

Pipocas ou tremoços?