Crónicas

Na Terra dos Sonhos

A sumptuosidade da Quinta equilibra-se com a sua imagem descomplexada, o assumir da sua fabulosa história dá-lhe um envelhecimento bonito

Como diria Jorge Palma “Na Terra dos Sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal, na Terra dos Sonhos toda a gente trata a gente toda por igual”. Foi precisamente assim que me senti das duas vezes que visitei os Jardins da Quinta “Monte Palace”. Não será exagerado dizer que das muitas viagens que já fiz, dos vários Países e Culturas diferentes que visitei, este espaço é dos que encerra mais características similares a essa letra tão especial do conceituado músico português.

Na realidade, o Jardim Tropical, situado na freguesia do Monte, conjuga uma homogeneidade na diversidade, num emaranhado complexo mas ao mesmo tempo tão mágico entre a Natureza e a Arte. E essa é apenas uma das suas valências que despertam a atenção e nos fazem reter a respiração por entre uma paisagem idílica e inúmeros cantos e recantos que davam para fazer uma coleção inimaginável de postais. Mas de facto quem precisa deles quando podemos usufruir de uma conjugação que nos remete para os filmes da Disney, feitos de personagens encantadas e mil histórias por contar.

Por entre coleções únicas e um relacionamento próximo entre o que é o património de Portugal e o que nos trazem as nossas raízes com a ligação umbilical que nos leva para África, para o cheiro a Terra ou os minerais de brilho natural que parecem reflectir o brilhozinho que carregamos nos olhos. Peças decorativas de pedras de cantarias trabalhadas, coleção de azulejos riquíssima e uma viagem por breves momentos ao Oriente carregam-nos para vários Mundos. E para quem como eu gosta de sonhar aqui nem precisa de fechar os olhos. O melhor mesmo é permanecer com eles bem abertos para poder desfrutar de tudo.

Mas este é também um espaço de pessoas. Um lugar de sorrisos simples e fáceis, de simpatia e de orgulho no que fazem. Do trato afável das meninas Idalina e Judite por entre uma chávena de chá com bolo de Mel às histórias que o Sr. José Manuel leva dos muitos anos a percorrer aqueles caminhos estreitos. Da recepção da Gloria a toda a disponibilidade da Teresa que nos levou por uma experiência sensorial, de sentidos bem apurados e de relacionamentos estreitos. De emoções e sensações. Da personalidade da Carina Bento e de toda a sua curadoria fantástica, do Amor que todos ali têm às peças, ao jardim, aos visitantes e passantes. Aos portugueses e aos que vêm de fora.

A sumptuosidade da Quinta equilibra-se com a sua imagem descomplexada, o assumir da sua fabulosa história dá-lhe um envelhecimento bonito. Assim como uma senhora com rugas que nunca deixou de se cuidar. É fascinante podermos contar com espaços assim que nos levam para momentos de puro prazer. Que são históricos e dinâmicos. Que se aprofundam e nos enlaçam. Vivia ali para sempre... A olhar para o Mar deitado na Natureza... Eu pelo menos gosto assim.

“Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura

Tens de olhar para fora sem esquecer que

dentro é que é o teu lugar”

Jorge Palma