Crónicas

Do “coisa e tal” ao “tal e coisa”

1. Disco: há dias, ao passear na net, tropecei, assim como quem não quer a coisa, em algo que tenho andado a ouvir à exaustão. Nem destaco nenhum disco em especial. Dá pelo nome de Mestrinho, é brasileiro e nunca o forró soou tão bem.

2. Livro: fui ler este livro que recebi no Natal, com alguma desconfiança. Pelo título cheirava-me, um bocado, a obra de auto-ajuda. “12 Regras para a Vida, Um antídoto para o caos” de Jordan B. Peterson revelou-se um livro imprescindível de ser lido. Ajuda na compreensão de muitas coisas que se estão a passar neste tempo que alguns, propositadamente, querem sem ideologias. Neste tempo de populismos e de tendências totalitárias. Muito bom para quem gosta de livros que ajudam a pensar, sem pensar por quem os lê.

3. Há duas coisas na vida que são fundamentais para qualquer pessoa: saúde e bem-estar. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como um estado de bem-estar físico, mental e social, não a restringindo somente à ausência de doença. Por vezes, deparamo-nos com muita confusão ao redor do conceito, havendo quem confunda as questões da saúde com medicina. A medicina é uma das ferramentas propiciadoras de bem-estar, mas não é, de todo, a saúde.

Pessoalmente gosto da definição que diz ser a saúde a habilidade de nos adaptarmos e gerirmos os desafios físicos, mentais e sociais com que nos deparamos ao longo da vida.

Porque sou liberal, tenho na liberdade o maior dos valores. O poder escolher, sem prejudicar, o exercício da minha liberdade, com responsabilidade, é um bem que não tem preço. Logo, tenho de considerar que uma pessoa que tem a sua saúde prejudicada tem, também, a sua liberdade, de alguma forma, condicionada.

O contexto em que nos inserimos é de grande importância para a nossa saúde. Mais e melhor saúde e bem-estar, terá sempre a ver com o desenvolvimento científico, mas também com as escolhas que fazemos em termos de vida. Mais saúde implica decisões individuais no sentido de um tipo de vida saudável e que não procure o risco da doença e do desconforto. E o social, visto como mecanismo de interacção, também não pode ser esquecido, uma vez que as escolhas que fazemos como um todo são também determinantes: o ambiente social, económico, político, as questões ambientais e as comportamentais.

Estas coisas preocupam-me tanto que não entendo como há quem as use como arma de arremesso. Acho que se deve informar o cidadão do estado em que as coisas estão, sou menos concordante que isso sirva de projéctil para atingir fins meramente partidários. “Oh para isto que está tudo numa porcaria”; “faltam medicamentos, faltam camas, falta papel higiénico”; “vocês falam, falam, mas lá no continente não está melhor do que aqui”; e etecetera. Às vezes até a mim me condeno por isto. Sou humano e, como tal, não isento da “má-língua”.

Mas se, por vezes, exerço a minha “má-língua” também sei relevar o papel da esmagadora maioria dos profissionais de saúde que fazem das tripas coração para minorar desconfortos e sofrimentos. Até hoje, não tenho razão de queixa todas as vezes que tive que recorrer, ao SRS, nas suas diversas valências.

Seria bom que fizéssemos uma moratória em relação a estas questões de enorme importância. Principalmente agora, no momento em que uma nova unidade hospitalar se prepara para ser construída. É tempo de reavaliação do SRS (que tão boas provas de sucesso deu no passado). Temos que o repensar com calma e serenidade. E, para isso, é preciso tempo. Os partidos, sindicatos e protagonistas da área, especialistas de diversas e diferentes valências, etc., têm de se sentar e pensar neste bem comum que é a saúde e o bem-estar. E isto não se faz numa legislatura. É preciso tempo para o pensar, experimentar e implementar.

Pela nossa saúde.

4. No PSD houve o “coisa e tal”, o PS fez o “tal e coisa”, o CDS o “etecetera e tal” e nós ficamos todos na mesma.

5. O meu pai é um homem sabedor. Concorde-se ou não com ele, não diz as coisas pela boca fora como se elas fossem desimportantes. A não ser quando usa o seu sentido de humor, mas aí percebe-se logo a mordacidade.

Vem isto a propósito de uma reportagem da TVI, salvo erro, que denunciava uns contractos de ajuste directo entre a Câmara de Loures, presidida por aquele jovem comunista que tem dúvidas de que a Coreia do Norte não seja uma democracia, e o genro de Jerónimo de Sousa. Quando uma pessoa pensa que isto bateu no fundo, há sempre alguém que consegue encontrar o fundo do fundo (acho que já escrevi isso aqui). Um dia, no meio de uma conversa sobre os partidos portugueses, o meu pai dizia que um partido comunista pequeno como o nosso era bom para o sistema. Segundo ele o PCP funcionava assim a modos como que o Conselho Fiscal da democracia. Achei imensa graça ao dito que me ficou até hoje. Ora, na semana passada caiu o Conselho Fiscal.

6. Um país onde se faz cooptação dos tribunais, perseguição política e policial da oposição, Assembleia Constituinte monopartidária eleita de modo fraudulento a exercer actos anticonstitucionais como, por exemplo, aprovar leis fora do seu âmbito; manifestantes detidos e julgados em tribunais militares; ameaças de despedimento aos funcionários públicos, se estes não seguirem a linha oficial; compadrio e nepotismo. Um país onde, nas últimas Presidenciais, a abstenção foi superior a 50%, onde há presos políticos. Um país que, por definição, encerra em si uma ditadura. Definem uma ditadura para todos, menos para Jerónimo de Sousa que escreveu e assinou, em nome do Partido Comunista, uma carta de congratulação pela tomada de posse de Nicolas Maduro. Para mim, Jerónimo Martins e o seu PCP, têm todo o direito de defender o que quiserem e entenderem. Eles e seja lá quem for. Não é proibindo-os que se os combate. É com argumentos e factos como os acima expostos!

7. Andou por aí a Ministra do Mar. Antevi que a senhora se ia limitar a papaguear o que está escrito, nas Grandes Opções do Plano, em relação ao ferry. Foi o que fez. Que vão estudar o assunto. Que se houver ferry só lá para 2020. Não percebo a euforia.

8. O Sr. Presidente da República, com a preciosa ajuda do Primeiro-ministro, decidiu ir comemorar o dia de Portugal em Portalegre. Nada me move contra Portalegre. Até sou daqueles que conseguem encontrar pontos comuns entre a insularidade e a interioridade. Mas este ano comemoram-se os 600 anos da descoberta, confirmação, achamento (cortar o que não interessa) da Madeira. 600 Anos. Não é uma data qualquer. Foi há 600 anos que a Madeira o começou a ser, porque não há terras com história sem gente dentro. São 600 anos, senhor Presidente. 600.

9. Por incrível que possa parecer, esta “crise” no PSD acaba com uma vitória de Rui Rio e com uma vitória de Luís Montenegro. Vitória de Rio porque o legitima. Rio, na campanha que o elegeu foi muito claro ao que vinha: recuperar a matriz social-democrata do PSD e, no limite, achar mais interessante, para o país, um acordo pós eleitoral com o PS (ganhe quem ganhar) do que permitir que a governação do país continue nas mãos da Geringonça. E é, também, uma vitória de Montenegro porque, se a estratégia de Rio correr mal, será ele o futuro líder do PSD.

10. “O maior perigo dos nossos tempos é que tão poucos ousam ser excêntricos” – John Stewart Mill