Crónicas

Dia de los muertos

Este dia dos Finados de homenagem aos que já não estão cá connosco assume por isso uma importância enorme no que se refere às memórias que nos trouxeram até aqui

Por esta altura festeja-se por vários motivos e honram-se diversas tradições. Sobretudo nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, o ‘Halloween’ ou Dia das Bruxas tem forte preponderância. Uma celebração pagã que não tem grande representatividade por cá ao invés do Dia do Mortos ou Dia dos Finados como é conhecido. Na realidade, o feriado é católico e pretende homenagear os diversos Santos e mártires existentes, mas a verdade é que é o dia seguinte que prende as atenções dos portugueses que se deslocam invariavelmente para a sua terra natal ou a dos seus Pais e outros familiares a fim de lhes prestar tributo muitas vezes trazendo à memória recordações passadas e bons tempos em grandes romarias aos cemitérios e casas de família.

No México festeja-se o Dia de los Muertos que não é mais do que o nosso Dia dos Finados embora por lá tenham encontrado uma forma de rentabilizar o acontecimento através de inúmeras festas e paradas a fazer lembrar o Carnaval. Com carros alegóricos e máscaras mas tudo confinado ao tema com inúmeras referências aos esqueletos e à cor preta normalmente associada a eventos fúnebres este dia foi para além das questões religiosas transformado numa forma de promoção turística sendo procurado por pessoas um pouco de toda a parte. No entanto, mais do que retratar as diferenças entre uns e outros importa acima de tudo referenciar aquilo que estes momentos simbolizam para nós e o importante que deve ser esta altura de reflexão, de regresso ao passado para melhor nos fazermos valer no futuro.

No meu entender o passado foi, é e será sempre a base mais sólida para o presente e a projecção do futuro. Aquilo que somos ou no que nos transformamos depende muito das pessoas que se vão cruzando connosco ao longo da Vida. A nossa formação enquanto indivíduos, a educação que nos deram e o que fizemos nós com isso ou como nos acabámos por construir tem uma influência muito grande dos primeiros anos que são passados (salvo raras excepções) em família. Habitualmente, as nossas referências de adolescência ou juventude acabam por se tornar numa espécie de fio condutor que nos rege e que se emaranha na nossa forma de ser e essas passam muitas vezes por familiares mais velhos que nos habituámos a admirar por esta ou aquela razão.

Este dia dos Finados de homenagem aos que já não estão cá connosco assume por isso uma importância enorme no que se refere às memórias que nos trouxeram até aqui ou nos mais próximos que nos ajudaram a ser o que somos hoje em dia. Aproveitar para pensarmos um pouco nos bons exemplos que nos deixaram, na nossa história de Vida, no que nos ensinaram e que devemos agora passar aos mais novos é por si só um sinal de maturidade, mas sobretudo de consciência do que somos e do que representamos para os que à nossa volta gravitam.

Para mim é um lago de boas memórias que merece ser festejado e lembrado com recordações que me deixam o coração cheio, mas um travo amargo de saudade que jamais será preenchido. É bom sabermos de onde viemos e para onde vamos e perder um pouco do nosso tempo a prestar o nosso reconhecimento a quem já partiu é uma forma de reconhecermos em nós próprios que este caminho não se faz sozinho e que muito devemos a pessoas que se empenharam em nos mostrar isso mesmo. No meu caso a lembrança dos meus avós. Juntar à mesma mesa os que cá ficaram é também reconhecer que o lugar deles estará sempre aqui, ao nosso lado, como protetores e conselheiros e festejar a vida tendo como parâmetros os exemplos que me deixaram.