Crónicas

Desporto para todos

O desporto tem que ser, também, um fator de integração social, combatendo os guetos que existem na sociedade, em que 31 por cento dos nossos conterrâneos estão em risco de pobreza

Nas sociedades atuais o Desporto é cada vez mais um setor em crescimento, pois todos os anos aumenta o número de pessoas que praticam desporto, ou fazem regularmente exercício físico. O Desporto deixou de ser uma questão menor que servia, apenas, para alienar o povo com o futebol profissional aos fins de semana e com o rescaldo das peripécias dos jogos no dia seguinte. O Desporto, em todas as suas vertentes, pode e deve ser um poderoso instrumento de desenvolvimento económico e social. É obvio que o desporto- espetáculo é incontornável, mas numa terra com poucos recursos temos que saber como gastamos, ou melhor como investimos, e que retorno económico e social temos da aposta no Desporto, nas suas várias dimensões. Ao contrário do que é propagado, a Madeira não é das Regiões europeias que mais investe no Desporto e, nos últimos anos, houve, mesmo, um desinvestimento neste setor, fruto da crise financeira.

A Madeira tem excelentes condições para a prática desportiva, nomeadamente para a realização de grandes eventos. Tem uma boa rede de recintos e equipamentos, se bem que tivesse exagerado na construção de campos de futebol e esquecido a necessidade de um grande Pavilhão Multiusos, consegue captar provas de alto nível nos desportos de montanha, mas pode e deve fazer mais no aproveitamento do seu imenso mar e transformar-se numa referência dos desportos náuticos no Atlântico.

No futebol profissional já estivemos melhor, com 3 equipas na primeira Liga, mas a verdade é que os clubes desempenham um papel preponderante na chamada dos jovens à prática desportiva e muitas vezes substituem-se à região em tarefas de educação e de formação que são da competência do Governo. O mesmo se diga dos clubes que nos regionais têm excelentes escolas de formação em diversas modalidades e que freguesia a freguesia, concelho a concelho, têm uma ação preponderante na animação e desenvolvimento das suas comunidades.

O apoio aos clubes devem ser plurianuais, em função dos resultados e objetivos obtidos nas Ligas e Campeonatos e o mesmo deve aplicar-se às Associações das diversas modalidades, sendo que aqui são importantes outros critérios como o número de atletas, as competições que organizam, a dinamização económica e social que geram, bem como a projeção que essas provas dão à Madeira e ao Porto Santo como destino turístico.

Há uma outra área que pode e deve ser mais trabalhada e que tem a ver com o Desporto para Todos, onde se têm feito progressos, mas onde é possível ir mais longe. O desporto, o exercício físico, não pode ser mais visto como coisa de crianças e jovens que se inicia na escola com a Educação Física e termina quando se conclui o ensino superior ou se entra no mercado de trabalho. O Desporto deve ser para toda a vida e com o envelhecimento da população e todos os problemas de saúde e de isolamento que traz, pode ser um elemento de prevenção de doenças e de integração social. Se investirmos mais no exercício físico, prevenindo incapacidades e doenças, poupamos muito, mas muito mais, nos serviços de saúde.

O Desporto para trabalhadores é outra das áreas onde já tivemos mais atividade e onde precisamos de ações que redinamizem provas que permitam uma salutar conciliação entre o trabalho, a família e a atividade física, revendo os preços do que se paga nos equipamentos para o lazer desportivo.

Finalmente, o Desporto pode ser um poderoso instrumento para combater o abandono escolar precoce e a exclusão social. Numa terra em que mais de 20 por cento dos nossos jovens abandona o ensino sem completar a escolaridade obrigatória, o deporto pode ser um dos elementos para tornar a escola mais apelativa. Daí a necessidade de adaptar os programas às apetências dos alunos e criar os clubes- escola, integrando-os com o desporto federado. O desporto tem que ser, também, um fator de integração social, combatendo os guetos que existem na sociedade, em que 31 por cento dos nossos conterrâneos estão em risco de pobreza. O ressurgimento dos clubes de sítio, muitos deles inativos, em que a par do desporto se ensinava música, teatro, dança e se convivia, é um caminho a percorrer, bem como como a criação de outras associações em bairros sociais que se constituem como autênticas ilhas de exclusão, em particular nas nossas cidades. Estes clubes deveriam ter uma majoração nos apoios que recebem da Região em função dos níveis de rendimento das famílias dos atletas e das atividades que desempenham junto das respetivas comunidades. O Desporto deve ser para todos e através dele podemos melhorar a Vida daqueles que ficaram nas margens e na periferia do desenvolvimento na nossa terra.