Crónicas

Annum electionis

Nunca, na Europa, no país ou na Região, tivemos tanta incerteza e tanta imprevisibilidade em atos eleitorais, o que só vem reforçar a força de cada voto na decisão final

Estamos num ano especial com 3 eleições da maior importância para o país e para a Região. Esperemos que não seja um anno horribilis, mas vai ser de certeza um annum electionis. Começamos no final de maio com as eleições europeias, porventura as mais decisivas desde a criação da Comunidade Económica Europeia, dada a instabilidade que reina nalguns estados membros, a anunciada saída do Reino Unido, o avanço dos populismos e extremismos e, mesmo, de forças interessadas em corroer por dentro este projeto de paz e de desenvolvimento do Velho Continente. Daí a necessidade de mobilizar todos os cidadãos para o voto na eleição dos deputados ao Parlamento Europeu. Portugal deve a consolidação da sua Democracia e muito do seu progresso, dos últimos anos, à integração europeia e a Madeira deve uma grande parte do seu desenvolvimento aos fundos que vieram da União. Sem eles não teria sido possível dotar a Região das condições de vida básicas e das principais infraestruturas essenciais ao nosso crescimento económico. Ainda hoje continuamos a receber avultadas contribuições comunitárias, quer para a coesão territorial e para obras públicas, quer para os setores produtivos, como os incentivos ao investimento privado e ao funcionamento das empresas, os apoios à formação profissional e ao emprego, as ajudas à agricultura e às pescas e as verbas para a cobertura dos custos da ultraperiferia. E a perspetiva é que essa solidariedade vai manter-se nos próximos anos. É por isso que não há razões para abstenções por mais desencantados que estejamos com a política e com os caminhos da Europa. Não é admissível que apenas um terço dos portugueses tenha ido votar nas europeias de 2014, uma participação muito abaixo da média europeia (43 por cento), a pior abstenção de sempre, o mesmo acontecendo na nossa terra. Temos uma dívida de gratidão para quem nos ajudou e a única forma de a pagar é contribuir para não deixar cair o ideal europeu. O que está em causa é relançar o projeto que, após duas sangrentas guerras mundiais no século XX, derrotou o fascismo e o comunismo e lançou o nosso continente num período de paz e de prosperidade sem paralelo na história. Não podemos voltar atrás!

No final de setembro, os madeirenses são chamados a eleger um novo Parlamento de onde sairá o Governo Regional. O que vamos escolher são 47 deputados e é da correlação de forças entre os diversos partidos que nascerá a solução governamental, isto antevendo que não haverá maioria absoluta. Depois de mais de 40 anos de hegemonia do PSD, os últimos atos eleitorais vieram demonstrar que os cidadãos querem mudança e diversidade na política regional e não estão dispostos a entregar todo o poder a um só partido. A afirmação do PS por via de vitórias no poder local e do CDS através da credibilidade das suas ideias e do seu programa tornam estas eleições as mais interessantes da história da Democracia e da Autonomia. Sendo assim, o voto de cada um de nós vai ser decisivo para esse momento histórico em que terminará a “ditadura da maioria” e os partidos serão obrigados a sentar-se à mesma mesa para negociar e construir uma solução estável e duradoura para a governação regional. Mais uma razão para ultrapassarmos essa taxa negra da nossa participação cívica que foi a abstenção de mais de metade dos eleitores nas últimas legislativas regionais.

Em outubro, quinze dias depois das regionais teremos as legislativas nacionais e o grau de imprevisibilidade é semelhante ao regional, quanto às maiorias, se bem que neste momento o PS parta em vantagem, fruto da razoável conjuntura económica, mas sobretudo da incapacidade do PSD em apresentar uma Alternativa e uma liderança credíveis para o país. O CDS tem marcado pontos e deve crescer, O PCP e o Bloco estão reféns da formação da geringonça e os partidos que entretanto se formaram não deverão ter grandes hipóteses de afirmação, uma vez que apesar do descontentamento, os eleitores já não vão em cantigas de “partidos novos” criados por velhas figuras da política ou por dissidentes que não vingaram nos partidos tradicionais.

A Madeira e o Porto Santo elegerão 6 deputados à Assembleia da República e estes poderão vir a ser decisivos para a formação ou apoio a uma nova maioria governamental, o que a acontecer, daria uma capacidade negocial importantíssima a esses parlamentares para resolverem os assuntos pendentes entre a Região e o Estado.

Nunca, na Europa, no país ou na Região, tivemos tanta incerteza e tanta imprevisibilidade em atos eleitorais, o que só vem reforçar a força de cada voto na decisão final e a importância que a escolha responsável do cidadão terá no futuro coletivo. Apesar de serem 3 eleições num ano, vale a pena o esforço de participar e de votar. Nunca o nosso voto foi tão decisivo!