Crónicas

Alameda do Artista Madeirense

Construir o futuro passa muito por dignificarmos o nosso passado

Na minha recente deslocação a Cabo Verde fui amavelmente convidado para as comemorações oficiais do Dia da Cultura Cabo-verdiana. A iniciativa consistia em dar inicio a uma série de homenagens aos artistas da terra começando pelo reconhecido músico António Vaz de Cabral ou “Ntoni Denti D´oro”. A ideia é através de bustos esculpidos marcar de forma indelével nas suas origens aqueles que tanto deram à cultura e à arte local. Os que realmente produziram, promoveram e fizeram erguer bem alto o nome do País que tanto os orgulhava. No fundo como a Lei do retorno , um dar de volta se possível em vida ou de forma póstuma mas criar condições para que as figuras de proa, as referências efectivas não sejam esquecidas.

Como fez questão de dizer no seu discurso de então, o Ministro da Cultura de Cabo Verde Abraão Vicente, mais do que ser de um Governo ou de alguma iniciativa privada importa referir a singularidade do agradecimento que é um pouco de todos. Do povo, das pessoas que com ele conviveram e dos que seguiram os seus passos. Da família e dos amigos. Dos que estão perto e dos que os visitam. É no fundo a cativação da diversidade e do enriquecimento cultural indo ao encontro das suas raízes, pleno de substância e de significado mas mais do que isso, justo e merecido.

Numa época em que começamos a desligarmo-nos dos títulos honoríficos e das honrarias dos senhores doutores e engenheiros mas que o substituímos pelos CEO´s e pelo CFO´s em empresas com dois ou três funcionários é fundamental darmos palco a quem de uma forma determinada fez. E fazer bem nos dias que correm dá muito trabalho e exige muita dedicação dada a competitividade e os caminhos muitas vezes enviesados até às oportunidades. Mas de facto para construirmos um futuro melhor para os que aí vêm temos que lhes ensinar pelas boas práticas mas também dando-lhes referências de excelência e palco aos que têm obra feita , que se dedicaram muitas vezes sem grandes condições , aos que lutaram quase sozinhos e que trilharam um caminho de sucesso sem tingirem os seus princípios ou convicções numa área tão difícil como a das Indústrias Criativas.

É por isso com natural expectativa que vejo o mesmo tipo de homenagem ser replicado na Madeira embora em moldes diferentes. A Alameda do Artista Madeirense, em Machico não é só mais um fantástico motivo de rentabilização turística para toda a Região e uma oportunidade única no que diz respeito à descentralização da arte e da Cultura, é também uma manifestação de reconhecimento e de nobreza de espirito para com os que tantas e tantas vezes levaram a Madeira pelo Mundo fora, promovendo através da sua qualidade, do seu empenho e do seu suor.

Numa parceria que junta várias forças públicas e privadas , desde a Secretaria Regional do Turismo e Cultura à Associação das Artes e Cultura da Madeira gostaria de salientar o papel da APEL escola que tem mostrado não se resignar ao papel de educar , inovando no serviço à comunidade e na abertura de portas neste caso para os alunos de Arte terem um espaço para expôr todo o seu talento num trabalho que será coordenado pelo professor Luís Paixão e que terá como primeiras esculturas uma homenagem à mulher e ao homem da Madeira e a que se seguirão Horácio Bento de Gouveia, António Aragão, Francisco Franco, Maria Aurora, Herberto Helder, José Tolentino , John dos Passos, Max, Vitor Costa, José da Costa Miranda e Lurdes de Castro. Construir o futuro passa muito por dignificarmos o nosso passado.