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Voltar à maioria absoluta

Uma coisa tem de ser certa: se o povo se fartar desta coligação tem de querer voltar às maiorias absolutas do PSD em vez de escolher uma geringonça de esquerda. Esta é a missão principal de Albuquerque.

A coligação PSD/CDS é um risco sério. Não para o CDS - qual sapinho que queria ser boi - que tem mais poder a que democraticamente tinha direito: a presidência da Assembleia Legislativa e duas secretarias regionais sem perigos de correr mal. O Mar é novidade e na Economia basta não estragarem o que vem sendo feito e não vem mal ao mundo (ler Madeira).

As secretarias difíceis - finanças e fiscalidade, transportes aéreos e marítimos, turismo, saúde, protecção civil e Porto Santo - ficam para o PSD assumir toda e qualquer responsabilidade. Dentro do plenário do governo será natural ter o CDS a reafirmar toda a sua “sabedoria” sob os temas a cargo da parte laranja. Devem ser opiniões tão boas como as que pregaram no parlamento. Aliás, é muito curioso perceber e de estranhar que tendo o CDS se destacado, pelo deputado e médico Mário Pereira, num insistente combate ao desempenho dos três secretários regionais da saúde e à necessidade de uma nova política para essa área, não se ter batido por ficar com essa secretaria regional. Era o lógico e expectável, não fosse não interessar ao CDS trabalhos difíceis que arrisquem insucesso e que penalizem o partido no final do mandato. Nem eles próprios devem acreditar no blá blá blá sobre a saúde discursado antes. Ainda bem que assim é pois está bem entregue a Pedro Ramos. Será de gargalhada ouvir o deputado Mário Pereira fazer intervenções parlamentares a desdizer tudo o que disse em quatro anos. Se, pelo contrário, vier confirmar tudo o que antes disse então teremos a primeira brecha na coligação. Um caso a seguir se não desistir do mandato. Não tem coerência possível.

Esta coligação governamental cinge-se a um acordo genérico com que toda a gente concorda. Será nos orçamentos que será posta à prova a concordância dos partidos sobre as prioridades de acção do governo. É preciso distribuir o programa por quatro anos e a experiência dos novos secretários é nula. Vão levar algum tempo para começar.

Obviamente tudo isto será avaliado no final do mandato, ainda que as pessoas já comecem a formar opinião. O que está em causa é a sentença popular a tudo isto, não o pormenor de Albuquerque e Barreto estarem de acordo sobre um documento com conteúdo sem qualquer polémica. A vontade dos dois em se coligarem ultrapassou qualquer hesitação e, agora, segue-se o trabalho.

Com onze membros no governo, gente não faltará para realizar as tarefas políticas que levem ao cumprimento do programa que ainda vão apresentar. Estranhei o CDS, partido que sempre questionou o despesismo, de querer duas secretarias inexistentes e que não existiriam caso não houvesse esta coligação. Custa dinheiro extra. É o “preço certo”.

Cabe ao presidente a nomeação dos governantes, provavelmente os oito do PSD. É tarefa sua e de mais ninguém, e dou de crédito que estará a reunir equipa que lhe dá garantias de sucesso. Até porque quando teve dúvidas fez as alterações que julgou indispensáveis.

Este é um enorme desafio político para Miguel Albuquerque. O PSD Madeira não tem esta experiência de governar em coligação. Se for bem sucedido será uma enorme vitória pessoal e para o PSD. Não será lembrado como o Alberto João Jardim 2, mas como o Miguel Albuquerque que liderou, com êxito, um PSD minoritário. Se tudo isto levar a uma nova maioria absoluta, então o registo será histórico.

Desejo-lhe as maiores felicidades!

Pior que tudo é a presidência da Assembleia ser entregue ao CDS. Desde logo afirmo não estar em causa a pessoa de José Manuel Rodrigues. Fora de questão. Do que se discorda é de todo o processo que leva a esta candidatura e a que o PSD seja afastado da liderança do órgão mais importante da nossa Democracia e Autonomia.

Afinal, tem doze proponentes do PSD e não deveria ter. Se José Manuel Rodrigues jura não ter feito qualquer chantagem - ninguém acreditaria - e que sempre será do CDS, então a candidatura de Tranquada Gomes não estaria em causa nem poria perigo a coligação. Rodrigues votava a favor, em coerência com a sua declaração, e os dois deputados do CDS seriam consequentes com a coligação. E teria mais votos da oposição até porque o PS precisa de votos para eleger um vice-presidente. Mais a JPP, mal aproveitada pelas precipitações da noite eleitoral.

Tranquada Gomes até poderia recolher a unanimidade dos deputados! O que parece certo é que alguém mente ou pelo menos omite factos relevantes que levam a esta candidatura inadmissível.

Não existe qualquer justificação racional, muito menos política, para esta candidatura. Se alguém do PSD furar a disciplina partidária, qual HERÓI inesperado, fica aberto o caminho para a restauração da normalidade democrática e ao regresso triunfal de Tranquada Gomes.

Apesar da euforia do momento, a expectativa política para o CDS é angustiante.

O seu melhor resultado eleitoral (2015) ficou a dever a se ter afirmado como verdadeira oposição ao PSD. Em 2019, perante uma perspectiva anunciada de perda da maioria absoluta por parte do PSD, deixou enredar-se numa onda de que seria a natural muleta do partido social-democrata para manter o governo. Uma traição aos verdadeiros militantes, trucidados pela máquina laranja durante quatro décadas. O resultado foi a fuga para os novos partidos de direita, para Paulo Cafôfo enquanto voto útil de oposição e para o próprio PSD. Agora, para recuperar eleitores só à custa do PSD, o que faz admitir um casamento com algumas “traições”.

Julgará que a presença no governo lhe trará novos apoiantes. É a ideia da ressurreição. Com as pastas governamentais que lhe estão distribuídas, ou que por ele foram solicitadas, e fora qualquer “MARemoto”, será difícil brilhar.