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Voando baixinho

Nos entretantos, a Região e os Madeirenses aguardam por medidas concretas por parte do Governo Regional, que tardam em chegar

Há algum tempo atrás contava-se uma anedota acerca de um professor que, ao questionar diversos alunos acerca de animais que voavam, perdeu a calma quando um deles respondeu “crocodilos”. E prontamente questionou quem lhe tinha ensinado tamanha inverdade, ao que o aluno cabisbaixo afirmou que tinha sido o pai. O professor visivelmente irritado, chamou o pai de ignorante e quis saber a sua profissão. O aluno explicou que o pai era agente do KGB e o professor, rapidamente, exclamou: “Ah, crocodilos, mas esses voam baixinho, baixinho!”.

Aqui na Região deparamo-nos com um tipo de governação que, em matéria de voos – leia-se transporte aéreo - deixa muito a desejar, senão vejamos diversos exemplos.

A uma proposta do PS para que a Madeira tivesse prioridade na atribuição de slots no Aeroporto de Lisboa, o secretário-geral do PSD apressou-se a afirmar que a mesma estava ferida de ilegalidade e era demagogia política (José Prada no DN a 12.10.2018), mas surpreendentemente, largos meses mais tarde, o mesmo PSD apresentou a mesma proposta na Assembleia da República.

Enquanto o PS, a 20.11.2019, defendia na Assembleia Regional a oportunidade que a renegociação entre a ANA e o Estado, acerca do Montijo, representava para introduzir o tema da redução de taxas nos aeroportos da Madeira e Porto Santo, o secretário regional com a tutela, indiferente às taxas ou a conversações com a ANA, afirmava que uma boa solução para a Madeira era o Aeroporto de Cascais, antigo Aeródromo de Tires (Eduardo Jesus no DN a 05.12.2019). Surpreendentemente, meses mais tarde, defende em entrevista a este Diário a 19.01.2020, a mesma posição que o PS tinha apresentado.

À necessidade identificada pelo PS de revisão do modelo de subsídio de mobilidade, o PSD sai sorridente de uma reunião com o Sr. Primeiro-Ministro dizendo que iria viabilizar o orçamento de Estado, mas de seguida tenta fazer uma ultrapassagem pela direita, deitando por terra o acordo que tanto elogiaram, ensaiando um número político com uma proposta que já tinha sido aprovada na Madeira e na República, inclusive pelo PS, e que não sendo uma revisão de modelo, não passa da tentativa de corrigir aquilo que o PSD na Madeira e o PSD/CDS na República introduziram, e mal, ao aplicar o modelo dos Açores à Madeira em 2015: estabelecer um limite de 400 eur para os Madeirenses e proibir o reembolso imediato a quem utilizar cartão de crédito no pagamento das suas viagens.

Nos entretantos, a Região e os Madeirenses aguardam por medidas concretas por parte do Governo Regional, que tardam em chegar. Continuamos a não ter um plano de contingência integrado da RAM para os constrangimentos verificados no Aeroporto da Madeira, continuamos a não ter um mecanismo de compensação para operadores e companhias aéreas devido aos mesmos motivos e evitando que abandonem a Madeira, e continuamos a não ter um fundo próprio de captação de rotas aéreas que sirvam residentes e turistas, e baixem os preços das ligações ao exterior. Tudo medidas defendidas pelo PS e que o Governo Regional PSD/CDS, pelo menos por agora, ainda não defende.

Efetivamente, o Governo Regional, o PSD/CDS Madeira e as suas (in)decisões também são daqueles que voam, mas voam baixinho, baixinho.