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“Unir Culturas e Mentes Criativas”

- Como serão as bibliotecas do Futuro?

- Como deverá Evoluir o Mecenato?

- O Apoio à Mobilidade Cultural será uma realidade?

- Os museus devem ser pagos?

- E esta ideia de Hotel Cultural, o que trás de novo?

Estas e outras tantas questões perseguem o nosso dia dia, para o qual tantas vezes somos chamados a intervir e outras tantas a desistir. Alguns chamam-nos empreendedores, acho que somos apenas loucos com vontade de demonstrar que é possível fazer diferente.

Dizer que o que começa por estar em mudança é a própria ideia de cultura é um desafio. A transformação é tão grande que justifica que se fale numa mudança de paradigma. A nova imagem da cultura não é apenas a cultura erudita de recorte humanista (as artes e as letras), nem a cultura de tipo antropológico (tudo o que não é natureza é cultura), nem a cultura de massas no sentido tradicional do termo. É algo que as atravessa, acolhe, mas designa já outra coisa.

Este caminho de definir outro tipo de caminho para as gentes da cultura que fala Português começou em 2012, com o lançamento da semente a que chamamos de Atlanticulture, por se tratar de um sonho de uma rede cultural representativa do eixo Atlântico que fala Português. Aos poucos foi atraindo entusiasmo e entusiastas e caminhando tornou-se a nossa razão de existir.

A cultura é hoje uma dimensão dominante em que está em jogo tudo o que fazemos, sem que se definam intermediários conscientes e explícitos que tutelem o sujeito. Falamos de uma rede que se une pela herança cultural, pela língua, mas sobretudo pelo multiculturalismo e pela vontade de não estabelecer barreiras ao processo da criação e difusão.

A sociedade industrial tinha um certo número de questões centrais; classes sociais, luta de classes, sindicatos e greves, mobilidade social, desigualdades. Como temos vindo a constatar de perto com a dimensão do sensacionalismo dos media. No nosso tempo existe uma emergência das questões culturais, em primeiro lugar, o problema da identidade, depois os novos movimentos sociais, o multiculturalismo, as relações com a transcendência, os problemas do corpo.

Para ultrapassarmos todas estes desafios, necessitamos em primeiro lugar conhecer os outros, as diferenças, os porquês! E a realidade social dos nossos dias tornou-se demasiado complexa. Fatores que outrora não eram tão evidentes, ou pelo menos não tão conhecidos e divulgados de forma rápida e ampla que as novas tecnologias de hoje proporcionam quase de forma banal, estão atualmente cada vez mais na ordem do dia.

A constatação da complexidade da sociedade atual e o papel do indivíduo nessa sociedade constituíram a motivação para a criação de uma geração que, crescendo a partir de um processo criativo, tecnológico e até de análise social, contribuísse para o desenvolvimento de uma sociedade melhor, para o aparecimento de indivíduos melhores. Foi esse o propósito que esteve na génese da Atlanticulture.

A preparação dos agentes culturais para a criação dessa sociedade melhor foi a verdadeira essência da missão da Atlanticulture.

Para lá da educação individual, a sociedade, enquanto conjunto organizado de indivíduos, remete-nos também para o outro. O conhecimento do outro afigura-se fundamental não só para a vivência em coexistência e em respeito mútuo, mas também para a compreensão de outras realidades socioculturais.

No mundo atual a ignorância, no sentido amplo de desconhecimento, provoca muitas vezes o medo, o medo do desconhecido, que conduz as sociedades para situações de intolerância e de cuja conflitualidade gerada surge a violência, na maior parte das vezes caldeada na agressividade individual.

Hoje mais do que falarmos línguas diferentes para nos entendermos, para falarmos com os outros, importa conhecer verdadeiramente os outros e as suas diferentes realidades culturais. Só assim compreenderemos melhor os outros. E conhecer melhor os outros pode ser uma forma de combater o medo e a intolerância que lhe está associada.

Se o multiculturalismo, consubstanciado na aprendizagem de várias culturas, foi um dos pilares, e continua a ser, da Atlanticulture, através da criação de uma rede de agentes culturais, capazes de provocar a mudança, a nova realidade à escala global, levou-nos a alargar o nosso âmbito sendo tempo de entendermos as culturas desses mesmos povos e partilhar essas diferentes culturas. Intercambiar a nossa cultura e outras culturas. Partilhar a nossa cultura com outras culturas.

A realidade atual, a nível político, social, económico e cultural, conduz-nos a uma evolução natural. Afirmarmo-nos enquanto entidade de partilha de culturas de alcance internacional como forma de combater a ignorância e contribuir para um mundo melhor é, no fundo, aquilo que nos move. “Unir Culturas e Mentes Criativas” é a nossa missão. Os próximos tempos são de trabalho árduo, para o qual me dedicarei a 100% e para o qual necessitamos do apoio de todos. Por isso acredito que não existem coincidências. Quis o destino que este artigo saísse a 24 de Dezembro e quer a minha vontade que este seja o último, chegou a hora de deixar este espaço a novos intervenientes, eternamente grato pela oportunidade que me foi dada de partilhar o que me vai na alma e felicidade de ter encontrado tanta gente que se revê no que escrevi.

A Felicidade de poder fazer a diferença na vida dos outros é a felicidade absoluta. Quando não é assim apenas sentimos felicidade relativa porque ela depende de estímulos externos e não nos completa.

Gratidão e Comunhão foram outros dos sentimentos que partilhei durante estes últimos anos por estas linhas escritas no Diário e por isso ficarei para sempre ligado a quem me leu.

Desejo-vos um Santo Natal, vivam a vida e sejam felizes, sempre!