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Uma lista que tem de esperar!

Uma lista de espera é uma solução de recurso, programada, num país considerado pobre ou com poucos recursos!

Não me é difícil falar sobre Saúde, mas também não é fácil falar sobre um assunto, quando toda a gente deu, dá e até deve dar opinião ... desde que seja uma opinião técnica e não uma opinião política. A Saúde é dos portugueses e não da particular leitura dos partidos! Bem a propósito deste assunto, li outro dia um artigo de opinião, escrito por um amigo de longa data, o qual achei ... simples, muito directo e objectivo, dissecando excelentemente o problema. Tentarei complementá-lo se tal for possível!

Irei explanar a minha visão do problema, o qual está intimamente relacionado com as particularidades das ilhas portuguesas. Os hospitais de Lisboa, se tiverem um excesso de “clientes”, motivado por uma pandemia qualquer, solicitam fácilmente ajuda aos hospitais próximos, de Almada ou de Amadora ou até de Cascais. Aqui, nesta ilha, como em qualquer outra ilha portuguesa, se houver uma pandemia, podemos ter de tratar pessoas, improvisadamente, nos pavilhões desportivos, se tal for técnica e físicamente necessário. Por esta razão, a organização do sistema de saúde na RAM, tem particularidades, porque, tem dias de muita afluência, a população sempre foi habituada a recorrer aos serviços de emergências por todo e qualquer motivo, que não tem, nem pode ter, estruturas para receber avalanches de pessoas, súbitas, desordenadas - mesmo nos períodos programados e críticos das gripes e infecções pulmonares - quando até há um plano prévio estabelecido para essas alturas do ano. Assim sendo - “jogando” com as “cartas” que temos na mão - não dá para toda a gente ter um atendimento adequado de apoio na doença. Primeiro, porque as pessoas só se lembram dos seus direitos - quando têm, por via da Constituição, o DEVER de “velar” pela sua SAÚDE. Quem fuma, está voluntáriamente a estragar o seu corpo e a programar uma doença oncológica a curto prazo! Doença essa - que podendo ser evitável - vai custar fortunas ao erário público ... se tiver cura. Segundo, porque os Centros de Saúde, mesmo com horários acrescidos, tornam-se insuficientes, para aceitar as pseudo-urgências mais a clientela habitual e comum do dia a dia, devido á falta premente de médicos de Medicina Geral e Familiar. Estes mesmos médicos, chamados de família, que devem ser o pilar do sistema de saúde - a base da pirâmide - aqueles que devem controlar a saúde geral dos madeirenses ... referenciando os casos específicos , para um serviço hospitalar, mais especializado e diferenciado. Deverá ser SEMPRE o clínico geral-médico de família o primeiro a avaliar o paciente, que depois poderá ou não enviar aos serviços hospitalares. E nunca deve ser o paciente, por livre decisão, recorrer ao hospital, para um serviço que desconhece a sua história, o seu problema. Mesmo sabendo que, uma doença ou disfunção súbitas, proporciona uma fragilidade e ansiedade que requer uma resposta breve ... não tem de ser num serviço programado para emergências ... onde até vão prejudicar directamente quem lá está, com necessidades técnicas e de atenção redobradas.

Uma lista de espera é uma solução de recurso, programada, num país considerado pobre ou com poucos recursos! E nós não somos ricos ... somos pobres ou temos pouco recursos! Os países ricos têm blocos operatórios recheados de cirurgiões das múltiplas especialidades, de anestesistas, de enfermagem especializada, têm todas as condições para receber e resolver dentro de um tempo útil, as normais e mais comuns situações cirúrgicas da população. Quando temos uma lista de espera - sinal de que nos faltam recursos - temos um número de chamada, temos uma fila de utentes, uns mais necessitados do que outros. Uma avaliação das necessidades dos utentes da lista, tem de ser frequentemente actualizada ... para não acontecer, por exemplo, uma cirurgia ortopédica ligamentar ao joelho, ficar 1 ano á espera com baixa médica ... quando o tempo e o preço dessa baixa, pagaria á vontade, essa cirurgia e ainda mais 4 ou 5, realizadas no serviço privado. Percebem as minhas contas? E acrescento, o privado e o público, é a simples escolha do patrão para quem se trabalha. A permanente conversa de promiscuidade entre o público e o privado é transversal a todo o país e ás mais diversas profissões ... porque quem manda não o faz e também não fiscaliza ... ou melhor, fiscaliza apenas o pagamento dos impostos, assunto que somos lideres mundiais. Mas até isto se percebe ... porque temos sempre de pagar as “dívidas” dos bancos ... sejam privados ou do Estado! Assim sendo, uma lista de espera tem de ser permanentemente vistoriada para re-estabelecer as prioridades, e assim podem uns casos, justificadamente, passar á frente de outros. Porque, que eu saiba, não somos ricos!

As pessoas falam muitas vezes ... eu faço os meus descontos no ordenado, ... como se os serviços de saúde estivessem em dívida para com eles. Muitos não sabem quanto custa, por exemplo, tratar um enfarte do miocárdio. Nem imaginam quanto custa - o preço real - para fazer análises de rotina! E continuam a achar mesmo assim, que o Estado ainda lhes deve dinheiro daquele que mensalmente descontam ... a vida toda. É importante informar as pessoas dos preços das coisas - os Serviços de Saúde da RAM, já o fazem actualmente e ainda bem! Para demonstrar quanto custa, na verdade, a despesa com a doença! E deve mostrar ainda, a tremenda importância em fazer uma PREVENÇÃO! Com cuidados alimentares, com exercício físico diário, com vacinas ... o “chamado trabalho de casa”, que todos deviam fazer.

Numa lista de espera só estão os casos cirúrgicos, que não sendo de decisão imediata, podem esperar. O tempo de espera deverá ser o menor possível ... sendo esse o foco principal de quem gere este contratempo da área da Saúde.

P.S. O Festival da Canção, agora, é para quem não gosta de música?