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Um novo ciclo

O tempo é de continuidade e investimento em infraestruturas. Mas, desta vez, nas verdes

O papel das infraestruturas físicas no suporte ao desenvolvimento é uma das evidências mais óbvias, quer se considerem escalas locais ou globais. Não é possível promover o bem-estar ou sequer pensar na qualidade de vida sem atender a necessidades tão básicas como a habitação, saneamento básico, vias de comunicação, portos, aeroportos, estabelecimentos de educação, saúde e todo o resto do arsenal que dá corpo ao que usualmente se designa por infraestruturas cinzentas. Invariavelmente é esse o percurso, dependendo das circunstâncias de onde se parte, física ou temporalmente. A Região Autónoma da Madeira, viveu, nas últimas quatro décadas, um ciclo fundamental a esse nível, que permitiu, aos madeirenses e aos que nos visitam, dispor do que efectivamente é necessário, ultrapassando um atraso estrutural gritante, injustificado e injusto.

O esforço foi tremendo e de uma dimensão, muitas vezes, inversa à falta de memória quanto ao que era ao tempo do ponto de partida. Para quem não tenha assistido à transformação, o exercício comparativo roça o impossível. Por outro lado, a disponibilidade entretanto criada dá, em alguns momentos, a sensação de que tudo estará feito, um certo estado de falta de orientação e de motivos de entendimento comum quanto ao devir, gerador de um estado de espírito incapaz de perceber que o processo é contínuo. A continuidade, por sua vez, não deve ser entendida como mais do mesmo. Isso seria redundância e inutilidade, excesso, desvario e desperdício em tempos e lugar de escassos recursos.

O tempo é de continuidade e investimento em infraestruturas. Mas, desta vez, nas ditas infraestruturas verdes, associado eficiência, qualidade e inteligência ao serviço do que se tem, do que se fez e do que se pretende continuar a promover, afinal, a qualidade de vida e bem-estar geral das pessoas. As infraestruturas verdes, em linha com os princípios e objectivos do desenvolvimento sustentável jogam um papel duplo enquanto elementos determinantes do investimento e criação de emprego (justo e duradouro) e como instrumentos de promoção da qualidade de vida, eficiência e protecção dos sistemas sociais e naturais. Que não sejam tidas como meros adereços destinados a espaços naturais, livres da presença humana ou de qualquer actividade económica. As infraestruturas verdes são, antes de mais, instrumentos de planeamento e gestão territorial multifuncionais com vista a garantir a salvaguarda dos recursos naturais mas, igualmente, assegurar que o valor da natureza assuma mais do que o simbolismo tradicional, dando expressão à quantificação e valoração dos serviços ecossistémicos e à sua contribuição para a qualidade de vida. O desafio maior será, eventualmente, saber quem, e como, incorporar as infraestruturas verdes no processo de desenvolvimento, tal como foi feito com as infraestruturas cinzentas? Quem for capaz de o fazer, estará igualmente a fazer história, uma história, de novo, ao serviço das pessoas, das suas necessidades e do seu desenvolvimento.