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Um dia, pelo Oceano

há só um mar, um só Oceano, imenso e determinante para as condições ambientais do planeta

Comemora-se por estes dias, mais precisamente a 8 de Junho, o Dia Mundial dos Oceanos. Um dia simbólico, importante e que, de forma crescente, tem vindo a servir para sublinhar a importância de salvaguardar um dos domínios ambientais mais importantes deste planeta. A juventude deste reconhecimento revela bem a distância que ainda existe ainda para com a natureza e relevância que o mar oceano merece. Começando pela designação, insiste-se na questão dos Oceanos, quando, na verdade, há só um mar, um só Oceano, imenso e determinante para as condições ambientais do planeta e de todos os processos biológicos e socioeconómicos que aconteceram, acontecem e ocorrerão no futuro deste pequeno Planeta. Essa, ainda, falta de visão integrada, limita, em muito, a abordagem a uma gestão integrada que urge com uma premência que não se tem visto compatível com os modelos de governança, quer à escala global quer ao nível local. Trata-se de meio tridimensional, desde logo, com pouca ou nenhuma tradição, ou mesmo obrigação, de gestão adequada, continuadamente visto como sem fim e com ilimitada capacidade de absorção e resiliência face a qualquer tipo de agressão, desperdício ou negligência.

Uma vez mais, o encolhimento do planeta e dos seus recursos, por via do crescimento desmesurado da população humana e a necessidade de ocupação e exploração dos recursos, levou a que a visão desse mar sem fim tenha começado a se mostrar ela sim, finita.

Mais de três biliões de pessoas dependendo directamente do mar e da zona costeira, o que será multiplicado por 20 em menos de 3 décadas; 5% do Produto Interno Bruto Global, 40 % da captura de dióxido de Carbono, 3 triliões de dólares de valor anual do mercado e indústria associado ao mar, são dados mais que suficientes para se olhar para o mar de outra forma, mais consistente, integrada e sustentável. A dita cultura do mar não poderá limitar-se ao cortejo mimético dos demais simbolismos ambientais associados à floresta, ao ambiente, ou a qualquer outro elemento, por muito importantes que possam ser. 75% daquilo a que chamamos vida acontece, exclusivamente no mar oceano, nesse espaço único, irrepetível e, hoje, seriamente ameaçado, a caminho de não poder assegurar as funções fundamentais que regulam as condições do ambiente geral do planeta nem os recursos de que depende, em última análise, a espécie humana no seu todo. Pensar o Oceano é importante mas agir pelo Oceano é ainda mais relevante e urgente. O sucesso desta empresa depende de todos, é certo, mas não pode ser encarado nem praticado de forma folclórica ou trocando papéis entre actores. Simbolismo, sensibilização, motivação e compromisso são muito importantes mas há que ir um pouco mais além. Aos decisores, utilizadores e gestores pede-se que dediquem algum tempo, energia e recursos num compromisso que possa ser quantificado, verificável e avaliado com metas e meios que se exercitem para além dos dias assinalados. O mar Oceano merece esse dia, todos os dias.