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Tratar... mas sabendo do que se trata!

Imaginam o planeta a rodar e a viver,sem vacinas e sem antibióticos?

Continua na moda escrever e falar sobre Saúde e quem mais gosta de escrever e falar é quem menos percebe da matéria ... talvez fosse importante esclarecer alguns conceitos e opiniões, mais especificamente sobre Medicina, mas de modo que todos consigam perceber o sentido dos mesmos.

Quando se vai ao médico, para uma consulta, há normalmente duas hipóteses: ou ele sabe o que se passa, qual é a patologia ou a doença, ou então não sabe. Se ele sabe, trata, porque sabe tratar ... porque foi para isso que muito estudou e muito treinou ... durante pelo menos 15 anos! Se não sabe, vai tratar de saber, com testes, sejam análises, exames radiográficos, ecografias, enfim, aquilo que for adequado e necessário para chegar ao diagnóstico. Diagnóstico, que em medicina, é o objectivo máximo, solene, indiscutível e portanto obrigatório e imprescindível. Porquê? Para poder escolher a decisão terapêutica, com certezas, sem dúvidas e sem erros. Depois disso, podem considerar-se várias hipóteses de tratamento: será para realizar uma cirurgia ou para fazer medicação, “per os” ou injectável, ou então as duas, ... pode ser para operar e depois medicar, ou então, para introduzir outras técnicas particulares de tratamento, como exemplos, a radioterapia ou crioterapia ou a litotrícia com laser. E depois vem o “folow up”, o seguimento da situação, com ou sem fisioterapia de reabilitação ... esta fase muito importante também, para se obter um bom resultado final.

Nesta forma de actuar e de exercer a sua intervenção profissional, os médicos - que nunca trabalham sózinhos - demonstram o seu estatuto de “investigadores” dos problemas da saúde, na procura exaustiva do diagnóstico, que deve ser muito preciso, utilizando os seus conhecimentos científicamente adquiridos, baseados em experiências realizadas, descritas, registadas e confirmadas, segundo regras e técnicas muito próprias, testadas, aprovadas e vigentes. Se o médico, porventura, não consegue chegar a um diagnóstico, se tal não for possível, terá de socorrer-se de outro clínico, de uma especialidade diversa, até chegar a um consenso, universal, e assim atingir uma decisão que seja a solução procurada e desejada. Esta é mais ou menos a medicina convencional, a medicina que faz e usa a descoberta da origem de uma qualquer patologia, que procura o motivo, seja a bactéria, o vírus ou seja o fungo, tratando de acordo com “aquilo” que lhe está ali presente. Mas, existem os casos de emergências, sejam por acidente traumático, sejam por evento súbito, que, quase sempre necessitam de uma cirurgia, para descobrir “in loco”, na hora, o que está a acontecer, e desse modo realizar o tratamento - com a rapidez e urgência que é mandatória nestes casos em apreço.

As chamadas Medicinas Alternativas - a mais evocada ou mais referida, a medicina tradicional chinesa - baseiam-se em, técnicas de intervenção, com uso de produtos vegetais, animais ou minerais, interna ou externamente, diluídos ou concentrados, em variados tipos de manipulações, com introdução de agulhas ou de ventosas em pontos muito específicos do corpo, ou então, em aplicação na pele de abelhas - para introdução do ferrão com o respectivo veneno. São, no fundo, técnicas que pretendem alterar ou reutilizar a energia existente no corpo humano, para fazer os tratamentos a que se dirigem, melhorando sintomas - a dor, por exemplo - melhorando disfunções ou conflitos músculo-esqueléticos, melhorando desiquilibrios, .... todos aqueles sinais e/ou sintomas que são comuns e referidos numa data de doenças. Sem pretender avaliar ou criticar, os materiais e métodos destas técnicas alternativas, quero sim afirmar que não são realizadas para tratar doenças, mas para diminuir em algumas doenças, os seus sintomas, para criar bem-estar, para melhorar a qualidade de vida, mas como disse não tratam, por exemplo, as artroses, a diabetes, nem tratam a hipertenção, os tumores, nem as doenças infecto-contagiosas. Certo? Referem alguns artigos relacionados com as medicinas alternativas, bons resultados no tratamento da fibromialgia ... uma doença, ou melhor, um conjunto de sinais e sintomas, com prevalência de dor crónica, ... da qual se desconhece a origem, e mais exactamente a sua fisiopatologia, sem haver quaisquer garantias científicas para salvaguarda das exigências da medicina convencional.

Considero portanto, as terapias alternativas coadjuvantes no tratamento de algumas ou até de muitas doenças, mas são exclusivamente técnicas terapêuticas. Não têm de ser comparadas com a medicina convencional, praticada nos países do mundo de A a Z! Como não tem nada de haver um frente a frente ou um debate técnico - como ficou patente na televisão do Estado - entre a Medicina Convencional e a Medicina Tradicional Chinesa! Pela mesma razão, que numa exposição canina não está permitido o desfile de gatos ou de outros animais! Uma, existe para tratar as doenças! As outras, ajudam no tratamento e na prevenção de algumas das doenças!

A medicina convencional, prevalece apoiada num pilar de conhecimentos, organizados, com fundamentos científicos, com experiências suportadas em múltiplos ensaios, com técnicas cirúrgicas aperfeiçoadas permanentemente, tudo assim programado, para poder tratar e defender o corpo humano, das agressões, das patologias, agora e no futuro. Dois “enormíssimos” exemplos da força e capacidade da medicina convencional no controlo da saúde a nível mundial e na prevenção das doenças são: os antibióticos e as vacinas. Imaginam o planeta a rodar e a viver, sem vacinas e sem antibióticos?

Por esta linha de conta, não posso aceitar, que se use a praça pública, para pôr em discussão ou em causa, uma ciência, com todas as suas qualificações, competências, certificações, requisitos e técnicas aprovadas, comparativamente com manipulações e técnicas - mesmo com experiência milenar - que são executadas com objectivos diversos, com garantias relativas. Não foi sensato usar um programa de debate e confronto - com reconhecida qualidade - num dia pouco feliz nos convites e depois encontrar dificuldades no controlo de algumas reacções inéditas e colaterais da plateia afecta a uma das áreas da discussão!

Como disse, reconheço que estas terapias têm todo o espaço técnico para serem utilizadas na melhoria de estados de saúde, mas, para se tratar uma doença - uma verdadeira e reconhecida doença - é necessário “tirar” um curso superior, numa universidade certificada e reconhecida e depois, praticar, treinar, e continuar a estudar e a se actualizar, para poder cumprir com todo o rigor, esse acto profissional tão particular e específico.

Para que tudo funcione bem na complicada máquina de prestação de serviços na Saúde, cada qual deve reconhecer exactamente, aquilo que sabe e aquilo que pode e deve fazer! Quem tem de tratar as doenças são os médicos! Mas para saber tratar, tem prioritáriamente de as identificar!

P.S. Considero há muito tempo, afirmando publicamente, que os médicos Especialistas em Medicina Geral e Familiar, trabalhando nos Centros de Saúde, não devem ser responsáveis por atestados médicos, como: carta de condução, licença para navegação de recreio, carta de caçador, licença de porte de arma, ... porque são do interesse privado do cidadão! Nada têm a ver com o serviço de saúde estatal, organizado para tratamento, controle e prevenção de doenças! Finalmente em 2019, está a ser posto em causa!