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Trapalhadas

Devo dizer que Rui Rio finalmente surpreendeu-me por tentar pôr ordem à casa

Durante toda esta semana, a Madeira foi notícia nacional à conta das trapalhadas do PSD-Madeira no processo de eleição interna do PSD nacional.

Então, o PSD-Madeira fotocopia os boletins de voto enviados pela sede nacional para disponibilizar aos militantes do PSD-Madeira? A lista nacional de militantes madeirenses com quotas pagas e com possibilidade de votar não coincide com a lista dos militantes disponibilizada pelo PSD-Madeira?

E o Conselho de Jurisdição não pronuncia uma palavra sobre este assunto? O atual Secretário-Geral do PSD-Madeira, advogado e membro no passado do Conselho de Jurisdição do partido compactuou com esta decisão? Quantos juristas e advogados pertencem ao Conselho Regional? Foi o Presidente do PSD-Madeira que também é Presidente do Governo e é também advogado que ordenou esta solução? Lembro que os advogados têm uma responsabilidade acrescida pelo respeito pelos estatutos. Quem mandou fotocopiar os boletins de voto?

Acho que está na hora de lembrar a todos os bons elementos que “simplesmente cumprem ordens” que Hitler também ordenou o genocídio dos judeus e vários massacres e a história condenou todos os generais, capitães e soldados que “cumpriram ordens”. Faltou-lhes ética, verticalidade e coragem.

Para além da crítica à gestão interna deste assunto, corrigem-me, se eu estiver errada, será que esta atitude foi politicamente inteligente? Vamos no caminho certo para credibilizar o partido? Será que não demonstra incapacidade para lidar e arranjar soluções legais e viáveis para problemas?

O problema, caro leitor, é que esta capacidade de arranjar soluções não é para qualquer um. É preciso ter um dom para encontrar soluções inovadoras dentro da legalidade. E esta capacidade não é obtida na universidade, nem mesmo com a experiência de trabalho. Para desenvolver esta capacidade é preciso ter, em primeiro lugar, a capacidade de dizer NÃO. Todos são importantes na gestão das organizações, mas as organizações para sobreviverem, sobretudo partidárias e governativas, precisam de bons elementos capazes de dizer “não”, “isso está errado”, “temos de seguir outro caminho”, com carácter e coluna vertebral. Há muito tempo que ao PSD-Madeira faltam estes elementos. E acredite que é preciso muita determinação e convicção para dizer “Não”.

Muitos afastaram-se e ficaram muitos “feijões verdes” e demasiados “carrapatos de corrida” que andam a usufruir de muito bom trabalho realizado no passado por muita boa gente. Mas a situação ainda piora quando um partido fica refém dos “feijões verdes armados em carrapatos de corrida” e de muitos que rastejam por migalhas.

Nas últimas eleições regionais, bons elementos voltaram a dar uma “pequena ajuda”, fundamental para o partido se manter no poder com a promessa de que após 22 de setembro tudo mudaria... O problema é que voltaram a ser usados e jogados fora.

Isto para não falar nas jogadas dos que têm medo da sombra e que sucessivamente vão eliminando todos os que podem fazer frente.

Depois esperam compromissos do Governo da República nas negociações que encetam sobre matérias importantes para a Região. A confiança é fundamental para o estabelecimento de apoios e contratos. Talvez seja pela falta dela que Rui Barreto afirmou esta semana que está “profundamente agastado com esta situação que se passa na Saúde”. E a culpa é de Lisboa?... 4 anos é uma eternidade em política. Muito desgaste ainda vai haver e cabeças vão rolar.

Depois estranham que surjam fenómenos como Trump, Bolsonaro, ou Boris Johnson. Em Portugal, existem já casos de extremismos políticos à conta da descredibilização política dos atuais intervenientes e do cansaço das pessoas pelo estado atual das coisas. Não é a primeira vez que alerto neste espaço para esta situação.

Devo dizer que Rui Rio finalmente surpreendeu-me por tentar pôr ordem à casa. Vi-o a fugir dos conflitos durante demasiado tempo. Finalmente percebeu que um líder tem de arregaçar as mangas e enfrentar o conflito?

O estabelecimento de regras impeditivas de pagamentos administrativos e de pagamentos por candidatos de quotas de militantes foi o primeiro passo para “limpar” determinados “assaltos ao poder”. Há muito trabalho a ser feito nesta matéria. Recordo que há uns anos o Partido Socialista abriu a porta das suas sedes a todos os militantes e simpatizantes que, independentemente das quotas pagas, votaram no candidato que mais simpatizavam.

O General Eisenhower que teve um papel importante na II Guerra Mundial e na recuperação da Europa pós-guerra afirmou: “Se um partido político não baseia a sua atuação no que está moralmente correto e que permita avançar a sociedade, então não é um partido político. É uma mera conspiração para tomar o poder de assalto.”