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Sou Europa!

Passaram 45 anos sobre a Revolução do 25 de Abril. Há 45 anos que vivemos em democracia com a perspetiva de uma sociedade justa, igualitária e fraterna.

Criámos o Estado social. Massificámos e democratizámos a Escola Pública que tirou Portugal do atraso e da miséria – lembro que em 1970, um em cada quatro portugueses não sabia ler ou escrever. Criámos o Serviço Nacional de Saúde e constituímos a Segurança Social, assente no princípio da solidariedade entre cidadãos.

Poderia continuar a escrever um rol de benefícios obtidos com a democracia, para não falar da liberdade conquistada, que contrariam uma ideia muito comum e banalizada, mas incorreta, na minha opinião, de que a vida está cada vez pior, de que agora ninguém tem respeito, de que os políticos falam mas não fazem, que não vale a pena votar porque é sempre mais do mesmo, etc. Mas olhemos para o antes e o depois do 25 de Abril e sejamos justos. Para alguns a vida piorou, é certo e nem sempre por sua decisão, mas para a grande maioria dos cidadãos o salto qualitativo foi evidente. Não esqueçamos que o Estado não substitui a ação do indivíduo, que nem sempre faz as melhores escolhas.

Outra das grandes conquistas de Abril foi a possibilidade de todos votarem e não apenas uma elite. Fazer opções exige responsabilidade, o que nem sempre é fácil, por isso, muitos deixam que outros o façam. Não é raro vermos as pessoas desiludidas com o modo de governação (não estou a considerar modos ilícitos e sem ética) porque não corresponde às suas expectativas. Pois, numa sociedade cada vez mais individualista e hedonista (não a altruísta de Stuart Mill), não é suficiente que a maioria beneficie com determinadas opções e políticas, desde que “eu” seja uma das beneficiadas.

Com a entrada na União Europeia, o sentido do todo e da maioria dilatou-se, ou seja, a dimensão do indivíduo, num conjunto de 28 países, torna-se quase insignificante. A nossa participação, o nosso voto para a Europa é para benefício de um bem comum ainda maior e, aparentemente, mais distante, o que pode dar a sensação de que a minha opção aqui não tem expressão em Bruxelas. Errado! Ao pensarmos assim, estamos a permitir que a intolerância, baseada nos ideais egoístas, nacionalistas e xenófobos, vão tomando conta da NOSSA Europa, até a destruírem. O perigo é eminente e por isso não posso deixar de votar e afirmar a minha identidade Europeia. Viva a Europa!