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Se bem me lembro...(4)

No mês de Setembro de 1959 (não me recordo o dia exato), com os meus 17 anos acabados de fazer, saí da Madeira pela primeira vez, de barco, pois não havia outo meio de transporte para o continente. Recordo-me como se fosse hoje. Nesse tempo o máximo que se poderia estudar cá era o sétimo ano do Liceu, o curso do magistério Primário e não me recordo se já existia o curso de enfermagem, mas penso que não, porque as senhoras da “bata branca” nos centros de saúde, eram tratadas por “visitadoras” e por esse motivo tive que deixar a minha terra para continuar os meus estudos. Antes partira do Seixal com dez anos para vir estudar para o liceu e agora para tirar o meu curso.

Embarquei no navio chamado Quanza, que tinha sido um cargueiro que operava nas nossas colónías e que fora transformado num barco que transportava tropas para India. O porão tinha sido transformado em camaratas e uma mesa de refeições a meio. Uma lona separava as duas camaratas com 32 beliches (R/ do Chão e primeiro andar) com capacidade para 64 passageiros, cada uma. Numa iam homens e noutra iam mulheres, na sua maioria estudantes que iam estudar para o continente. Isto, claro a chamada 3ª classe, (na proa) porque certamente havia a 1ª, geralmente a meio do barco e a 2ª na popa do navio.

Como íamos numa camarata tínhamos a designação de “passageiro de 3ª classe sem acomodação. Pagamos 373$00 (equivalente a cerca de 1,86 euros). Tinhamos direito além da viagem, a pequeno almoço, almoço e jantar, para além do uso das casas de banho e duches de água quente.

Nesse tempo tínhamos várias companhias a operar nesta rota: Companhia: Insulana de Navegação, Companhia Nacional de Navegação, Companhia Colonial de Navegação e ainda a companhia da CUF e a nossa madeirense, que só levava meia dúzia de passageiros em primeira classe....para além de outras companhias estrangeiras que iam para a Venezuela, Brasil e “West Indias”

Demoramos cinquenta horas, a apanhar mau tempo e como estava muito calor com tanta gente nas camaratas, tiraram uma tábuas que tapavam o porão (ar condicionado da época)... Estavamos a jantar e a ouvir o barulho do mar a bater no casco do barco e pensávamos: “ não vai demorar muito, que não venha aí um onda e nos dê um banho”...passado pouco tempo sempre veio a esperada visita que nos deixou num “pingo”

Eu, como enjoava e com aquela ondulação e os cheiros próprios de um barco que andou a transportar madeiras, passei grande parte do tempo no beliche. Efectivamente não era marinheiro!!!!

Finalmente chegamos a Lisboa. Pela primeira vez vi um rio ( Rio Tejo); um Combóio (da linha de Cascais) e os electricos que circulavam por toda a Lisboa. Novidades para mim. Tinha estudado todas as estações e apeadeiros da Linha do Norte, do Sul, do Leste, etc...sem nunca ter visto um combóio!!!1Tinhamos estudado todos os rios de Portugal, da Europa, do resto do mundo e nunca tinha visto um rio...Finalmente fiquei a saber o que era um combóio e o que era um Rio e logo este Tejo com uma foz bem larga, que comparado com as nossas ribeiras não cabiam na nossa imaginação...

Curiosamente não foi ninguém me pôr a Coimbra, nem a minha irmã em Lisboa!!!Nem tão pouco alugar um quarto!!! ( ainda dizem que os meninos de agora são mais desenrascados, quando os papás e as mamãs têm que lá ir pô-los) Depois fui metido num combóio até Coimbra. Fui apreciando a paisagem, as planícies que não sabia o que era, pois por cá eram montanhas em cima de montanhas...

Curiosamente dos 64 que chegamos a Lisboa não me recordo de ouvir algum dizer que ia receber o subsidio de mobilidade. Não havia nada, Não havia apoios nenhuns...Os actuais costumam dizer: “ outros tempos” e nós, mais velhinhos vamos dizendo, abençoados tempos que colaboravam na nossa formação para a vida!!!

Vem este se “Bem me Lembro”, a propósito da visita da Ministra do Mar à Madeira, que explicou, clarinho como água o que se está a passar com o Ferry. Porque razão havemos de ir para o Algarve (Portimão), quando antes íamos direitinhos a Lisboa? Sabiam que para o Ferry ligar a Madeira ao porto de Lisboa é necessário prepará-lo para isso? Qual será a rota do barco? Como vai ser o subsidio de mobilidade ao longo de 12 meses no ano? Onde está o trabalho de casa feito pelo Governo Regional? Será preciso ou não uma nova rampa? Bastará adaptar o actual subsidio de mobilidade do ar para o mar? Quem terá direito a esse subsidio? E muitas outras perguntas que se poderiam fazer e que os nossos governantes nunca pensaram nelas....

Nota-se um certo nervosismo naqueles que prometeram e falharam, naqueles que estão a ver que o Ferry será uma realidade e que resolveram fazer umas perguntas depois das respostas dadas pela Ministra, com receio de perderem (neste caso) o barco, ou então dizer, fomos nós que exigimos, que fizemos, quando não têm maioria em lado nenhum, quando muitas vezes adiantam-se em propostas que já estão a ser estudadas....Não se enervem as eleições Regionais são só no começo do Outono....Ainda falta muito tempo...Mas não há dúvida que toda a direita e suas bengalinhas, andam mesmo muito nervosos...