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Passei o mês de Novembro como representante local de uma empresa holandesa, e foi nessas funções que, em choque, descobri como se vendia a Madeira em época baixa.

Chegaram-me vários clientes que me afiançaram ter pago 200 euro por cinco dias de férias, incluindo voo e alojamento. A minha questão é a seguinte: aceitando desde já que o voo foi extremamente barato, como é que se vende alojamento a este preço.

A minha questão é: é sustentável vender assim um destino? E sendo, será mesmo isso que queremos como público? Porque será este mesmo público que vai discutir o preço de tudo o que aqui houver para comprar – e com razão, porque por causa de um pacote extremamente barato, toda a sua percepção de valor foi pervertida.

Ou será que o que está pervertido é mesmo a nossa convicção que a Madeira tem mais valor que isto? Porque das duas uma, ou continuamos neste caminho, e o destino é mesmo férias a 200 euro – e os públicos que essa opção acarreta. Ou fazemos, em conjunto, um esforço de revalorização e diferenciação do destino.

É um processo difícil, caro e demorado. Mas que começa pela aceitação que este estado de coisas é insustentável e inaceitável. E continua com a capacidade de dizer “não”. Que a esse preço preferimos deixar o quarto de hotel vazio. Porque vender a esse preço põe em causa a imagem do destino, e torna mais difícil cada venda a jusante.

Não acredito que isso vá acontecer, porque não é essa a tendência a que vimos assistindo na Região, em que impera o deixa andar e o manter das aparências. E principalmente porque é ano de eleições, e aceitar esta realidade é admitir que se andou a enganar os madeirenses ao longo de anos, e que o que se vem dizendo não corresponde à verdade.

Mas entretanto, vamos apreciando as luzinhas do Natal e o fogo do fim do ano. Bom Natal, e bom ano.