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Salazar e C.ª!

Uma opinião polémica só resulta em polémica instalada quando os intervenientes têm sentimentos ou espíritos polémicos e portanto quando lhes falta senso, educação, sentido de Estado, este último quando produzido por indivíduo com um cargo oficial. Esta conversa introdutória , vem a propósito de uma entrevista realizada por uma “antena” televisiva a um ex-presidiário, que cumpriu pena por situações de extrema agressividade e actividade racista, com uma morte pelo meio, entre outras ... a qual desencadeou comentários imensos, desproporcionados ou não, inclusivé de um representante do governo da república.

Quando se ouve alguém dizer - “ O Salazar devia voltar, para resolver este País” ou então, - “Gosto mais do meu gato, do que da minha família”, ... estamos perante frases de pessoas, desequilibradas ou pelo menos desenquadradas da realidade. O Salazar não foi mais do que um político de direita, com muitas atitudes ditatoriais, que viveu num tempo em que a democracia não funcionava no nosso país ou melhor, estava mascarada por ordens superiores, governamentais. Como estava a acontecer, na mesma altura, em tantos outros países da Europa, ... em Espanha, na Itália, Jugoslávia, Roménia, URSS e por aí adiante. Mas, para haver estes ditadores e estados ditatoriais tinha de haver apoiantes e seguidores. E hoje em dia, ainda há ditadores pelo mundo e há países com políticos de fachada, a desenvolver processos ditatoriais, com descarada intenção anti-democrática, auto-apelidada de socialista, apoiados por uma conhecida fórmula política de um país europeu de esquerda. No nosso país, temos também essa mesma linha política, em partidos legalizados, que na sua essência, vêm a democracia de forma desfocada, ... para não chamar outro nome! E que, como era de esperar, também têm adeptos e apoiantes. Portanto, os problemas deste género, quando surgem e se declaram, estão concerteza relacionados com a falta de “blindagem” do regime democrático ... que está a permitir a sua deterioração, manipulação e estabilidade. E a Venezuela serve muito bem, como o verdadeiro e mais actual exemplo dum país classificado de “assim não dá”!

O nosso Oliveira Salazar, foi ditador numa época, num país, com muito analfabetismo, muita iliteracia - para o qual pouco ou nada fez - conseguindo realizar as suas intenções e tomar decisões, mandando calar ou mesmo matar, os seus opositores. Mas, nessa mesma época e seguintes, quantos foram mandados matar na URSS ou na China por idêntico motivo? Comparar os números, não atenua os crimes praticados, mas mostra as verdadeiras dimensões e significado dos mesmos! O nosso ditador, que esteve uma quarentena de anos no poder, realizou coisas boas e coisas más, a pior delas, uma Guerra Colonial, que matou e mutilou tantos portugueses, ... coitados, muitos deles sem saber porquê. Hoje é fácil ser político, desde que exista um espírito de missão e um regime democrático, cumpridor e rigoroso, com os devidos cuidados, nas contas, na saúde, na educação e na cultura. Mas a Constituição - o leme que dá o rumo ao País - tem de se adaptar ás circunstâncias, á evolução do mundo, principalmente no mundo da corrupção ... e o Código Penal tem de ser mais eficaz ... e tem de ser corrigido e adaptado também. Mas, para isso poder acontecer, tem de haver a vontade e a conjugação das forças políticas da A.R. e assim mudar e adaptar Códigos e Constituição ... !! Se tiverem a maçada de consultar o Artigo 235º do C.P. , percebem o que quero dizer sobre as falhas ou as “janelas”das leis ... que permitiram actos sucessivos de corrupção organizada, que provocaram falências reais em muitos bancos portugueses - sem que ninguém, responsável, reparasse no que estava a suceder. E quando se trata de julgar e punir os verdadeiros culpados, chovem os recursos! No Reino Unido, por exemplo, um indiciado, julgado e depois condenado, espera pelo seu recurso, já “instalado” na cadeia. Aqui, num caso idêntico, mete-se o recurso e o condenado, ... ou fica em casa ou vai passear para um qualquer Jardim Municipal!

Mas, grave ou até muito grave foi o comentário do tal Sr. Ministro, sobre a tal entrevista ... com uma saída de mau gosto e uma triste comparação, demonstrando uma falta de qualidade política, que resulta com toda a certeza em inoperância na gestão do seu pelouro. Quantos acidentes podemos contabilizar nos últimos dois anos, resultantes de uma má gestão do território nacional? Mas o povo, o nosso povo, não se pode queixar ... e não tem de vestir um colete amarelo ... porque na hora certa, na hora de votar, está ausente! Metade da população - um em cada dois - não vota! Metade da população tem de estar calada, porque não quer saber e não participa na vida e nas decisões do país! Falta muito mais educação, mais cultura, mais participação, falta mais nacionalismo!

Falar do salazarismo, dessa época de perseguições, de controlo mesquinho e exagerado sobre os cidadãos, nas suas opiniões, nas suas facções políticas, até na sua vida privada, não é tabu. Querer voltar a esse tempo passado, também não é possível, porque aqueles que fizeram a história desse tempo já morreram e com eles morreram as suas ideias ... que estarão enterradas algures no nosso território. Agora, a liberdade de expressão é um direito, que depois pode ser criticado e rebatido e até condenado, verbalmente. Toda a gente tem o direito de ter a sua opinião ... e de se mascarar livremente, nas redes sociais ... ou então e ainda melhor na época do Carnaval! Mas, uma televisão, não tem o direito de manipular o questionário a um entrevistado, com o intuito de branquear um qualquer sujeito seja a que título for! Tem até o dever de fazer o contrário!

Realmente, estamos a passar por uma fase de gestão pública muito instável, com estas notícias de relevo televisivo significativo: - Hoje, finalmente, após 50 anos de discussões activas, é inaugurado o projecto do novo aeroporto de Lisboa, no Montijo, com pompa e circunstância, ... amanhã ... - Numa singela entrevista, de circunstância, numa carruagem do metro de Lisboa, o Sr. P.M. diz textualmente, perante alguma estupefacção geral, que o projecto só avança, se tiver a aprovação do estudo de impacto ambiental! E não há plano B! Ou seja, ou sim ou sopas!

Também em destacada entrevista-debate televisionada, cinco partidos da AR, á excepção do PAN, explicaram as suas opiniões - todas diferentes - sobre a proposta de Lei de Bases da Saúde. Afinal, a Saúde não é igual para todos! Cada partido tem a sua!

Já nem N.S. de Fátima nos salva! Quanto mais o Salazar ... que já morreu!