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Safa-te Pá!

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. A frase é do naturalista britânico Charles Darwin e vem trespassando décadas mantendo uma atualidade absolutamente indeferível. Eu sou de uma geração que cresceu a ouvir compulsivamente “ tira o canudo e terás tudo”.Desde cedo que levámos com esta cassete vezes e vezes sem conta ora dos pais, dos professores e dos que nos governam.Na altura para eles o Mundo apresentava-se dessa forma.Para seres alguém tinhas obrigatoriamente que ter um curso e por cá nem bastava ter um profissional que isso era coisa para inábeis e burros , era estritamente necessária a licenciatura para gáudio dos progenitores que apresentavam os seus filhos como troféus à sociedade. Quem o tinha era catalogado de imediato como melhor do que o que não tinha e muitas vezes tratado de forma diferenciada.

Mas o Mundo mudou e quando tirámos os nossos cursos e nos apresentámos ao mercado...não havia emprego.De repente e sem aviso prévio trocaram-nos as voltas e “lavando as mãos” de tudo o que havia sido dito disseram-nos “agora safa-te pá”.Apelidaram-nos de Geração Rasca que veio posteriormente a dar o nome à Geração À Rasca quando tudo o que nos ensinaram e o que nos convenceram ( e que nós como mais novos logicamente acreditámos ) estava afinal errado. Mas ninguém quis saber. Já é aliás habito por cá. Tomam-se decisões, cavam-se buracos , perde-se dinheiro misteriosamente e nunca existem culpados , ninguém sabe, ninguém explica nem assume as consequências. Essas ficam para quem vem atrás, que feche a porta naturalmente. Foi precisamente isso que nos aconteceu.

Aquilo que era um emprego “para a vida” passou a recibos verdes e trabalho precário.As famosas carreiras na mesma empresa , as relações de confiança , tudo se foi perdendo aos poucos e não passa hoje em dia de uma leve miragem do que não volta mais.A mim não me assusta particularmente. Nunca me assustou. Sempre aprendi a garimpar os meus próprios projectos e a tentar criar onde não havia nada. Agora não venham é dizer que é fácil , nem meter as culpas em inúmeros desempregados da minha geração que não conseguem vislumbrar um futuro risonho.Isso explica em parte o desequilíbrio latente na sociedade e nas pessoas em particular, a instabilidade emocional e as grandes doenças que vieram para ficar definitivamente neste século. As da cabeça, do foro psicológico que normalmente não vão lá com medicamentos mas com outro tipo de soluções.

É por isso que quem tem mais sucesso hoje em dia não é o mais forte nem o mais inteligente mas sim o que consegue assegurar uma maior estabilidade entre a inteligência intelectual e a emocional , aquele que se consegue adaptar as situações , que está preparado para não se deixar cair à primeira, nem à segunda ou à terceira. Que não desiste e que insiste , insiste e insiste. Mas também o que não se esconde nem se apaga. Que se procura relacionar com o maior numero de pessoas e que se consegue infiltrar nos círculos de decisão e influência. Essa criação de uma rede de contactos forte e sólida em que se consegue ser valorizado e ser escutado.

A multiplicidade de variáveis a que temos que estar sujeitos e esta capacidade constante de nos sabermos adaptar a elas faz do mercado de trabalho um complexo problema a que muitos não conseguem dar resposta.Essa estabilidade reconfortante que existia deu lugar a um receio constante que se demonstra muitas vezes como factor inibidor para o sucesso e para uma mente mais tranquila e livre para aproveitar o que de bom a Vida tem para nos oferecer. Não é por acaso que o estudo do comportamento e das funções mentais a que damos o nome de Psicologia tem cada vez mais um papel decisivo no dia a dia de milhões de pessoas. A importância da resiliência mas também da nossa compreensão pessoal. Conceitos como a percepção , as emoções e a própria motivação vieram para ficar no nosso léxico. Mas que não se recrimine quem tem dificuldade em dar esse passo mas que se apoie e ajude para uma melhor construção pessoal. Porque isto nos dias que correm não é assim tão simples e nem tão pouco acessível.