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“Rentrée escolar...”

Azafama, ansiedade e angústia são alguns dos “ingredientes” típicos do início do ano letivo.

Alunos, pais, professores, diretores das escolas, governantes e demais intervenientes, diretos e indiretos, no fenómeno educativo, vivem este momento em função de diferentes contextos, expetativas e responsabilidades.

Mas existirão grandes diferenças em relação ao passado? Mas que passado? O dos últimos anos? O daqueles que hoje são pais? O dos que hoje são avós? ...

Apesar de alguns problemas que eram recorrentes e que faziam as “delícias noticiosas” já não assumirem a relevância de outrora, por exemplo, o analfabetismo, a falta de condições de muitas escolas, o abandono escolar, a colocação de professores ... a verdade é que o grande problema é a escola continuar com a matriz “fabril”, centrada nos programas e respetivos manuais escolares, sendo condicionada a preocupar-se essencialmente com a transmissão de conhecimentos e não com o desenvolvimento das capacidades e potencialidades de cada aluno. O que, no atual contexto, significa que está a preparar predominantemente para o passado.

Contudo, não se trata de um problema de fácil resolução, mesmo quando existe vontade de mudar, uma vez que, generalizadamente, continuamos a ter dificuldade em identificar e distinguir o que “é essencial e o que é apenas importante”...

A título de exemplo, discutem-se os elevados preços dos manuais escolares e o “peso das mochilas” que os alunos transportam. Apontam-se soluções e tomam-se medidas relacionadas com a utilização de cacifos, a reutilização dos manuais ou sua existência unicamente em suporte digital, os custos a serem assumidos pelos municípios e pelo governo e não pelas famílias, etc. etc. Porém, a discussão sobre se os manuais escolares continuam a ser necessários ou se, pelo contrário, são um empecilho a um processo pedagógico centrado no aluno, parece passar ao lado das preocupações da grande maioria, sendo que, por vezes, até parece ser sacrilégio levantar a questão...

Ou seja, parece não ter qualquer importância o facto de já não vivermos numa sociedade com escassez de informação e conhecimento, em que ter uma enciclopédia em casa era um luxo ao alcance de poucos. Hoje, pelo contrário, existe abundância de informação e conhecimento de fácil acesso, onde a capacidade de “separar o trigo do joio” assume cada vez maior relevância.

Contudo, apesar de todas as disfuncionalidades, a Escola continua a ser um polo atractor das dinâmicas sociais dos jovens... Aliás, para compreender um pouco melhor esta problemática (e não só), tomo a liberdade de recomendar a leitura das crónicas semanais da jornalista Marta Caires, neste mesmo Diário.

O mundo mudou e continua a mudar a uma velocidade sem precedentes na história da humanidade, mas o processo pedagógico em geral e em particular o Sistema Educativo, do básico ao universitário (com honrosas exceções, a maioria na forma tentada ou de caráter isolado e pontual), em vez de se assumirem como um polo potenciador de uma mudança consciente e responsável, mais parecem bastiões de um passado que não volta mais.

Cada um de nós, na família, no clube, na escola, na universidade, no grupo de amigos ... pode ajudar a modificar a perceção deste problema.

Temos de estimular a pesquisa, a curiosidade, a criatividade, a autonomia, a montagem de estratégias, a capacidade de adaptação ...

Porque não começar já com a preparação de toda a logística para a “Rentrée escolar...”?

Talvez dessa forma, por exemplo, não se tenha de manter “uma guerra constante” (por vezes do pré-escolar ao 12º ano, e não digo universidade porque aí já não nos ligam) para que os filhos acordem e se despachem logo pela manhã...