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Regeneração Urbana – Avenida Almirante Reis

Um dia destes percorri a Avenida Almirante Reis a pé. Olhando para as fachadas, é vermos alternar prédios esteticamente interessantes ladeados por aberrações arquitectónicas.

A Avenida avança tenuemente a sua reabilitação, há um prédio ou outro recuperado, mas carece de uma intervenção de fundo que dê um ar moderno aquela artéria nobre da cidade de Lisboa. Não sendo especialista em urbanismo, constata-se necessitar de uma outra dinâmica na sua reabilitação, de mais espaço para circulação e deleite de peões, ciclovias, uma faixa em cada sentido para trânsito automóvel e muito melhor limpeza urbana.

Há precisamente um ano escrevi um artigo sobre alojamento local publicado no Diário de Noticias a abordar a questão de se tratar de mais um produto ao serviço do país, beneficiando directamente quem investe e indirectamente a população em geral. Pensei que passado um ano este tipo de negócio já tivesse sido aceite por todos, dado ser um conceito/produto novo, criador de riqueza e emprego como outro qualquer e representar uma entrada maciça de dinheiro no país, contribuindo de forma indelével para a sua regeneração. Afinal ainda se debate e combate o AL e dessa forma empobrecemos todos.

Investir no imobiliário é desincentivador, são as cargas fiscais brutais, acrescidas de despesas de condomínio, encargos com Bancos, gastos de manutenção e tudo o mais, num investimento com um retorno que ultrapassa largamente os 50 anos. Recentemente li que os mais ricos em Portugal investem em ações, tornam-se proprietários de grandes empresas onde são administradores/CEO´s executivos ou não, disfrutando de altos rendimentos e dividendos, fugindo do mercado imobiliário e da tributação excessiva.

Um dia, ao falar com um político colocado no topo da hierarquia do Estado, este dizia-me: “só um tonto investe no imobiliário, antes disfrutar a vida do que estar agarrado ao cimento”, não deixo de lhe reconhecer razão. Até parece do Bloco de Esquerda ou Comunista, mas não é.

Voltando à Almirante Reis e a muitos outros locais e artérias de Lisboa, constatamos que ainda necessita de muita reabilitação urbana para ser considerada uma cidade moderna do ponto de vista urbanístico. É fundamental não condicionar nem interferir constantemente no mercado de arrendamento, alterando regras permanentemente, há que dar estabilidade para o investimento ser aliciante e assim trazer mais agentes ao mercado.

O problema da habitação para as famílias mais carenciadas resolve-se com o Estado a investir fortemente na reabilitação e construção de habitação de qualidade e não obrigando o privado a afectar os seus prédios a este tipo de habitação, forçando sempre no sentido da desvalorização desse património em vez de o valorizar. Os orçamentos do Estado, da Região e dos Municípios devem ser dotados, por Lei, de uma verba ou percentagem mínima para ser afecta à habitação acessível, esta é uma obrigação moral, social para não dizer Constitucional do Estado que este tende em não cumprir.

O estigma das donzelas do Intendente já se esfumou, as novas gerações já não acreditam nas suas virtudes afrodisíacas, a Avenida tem que ter outros atractivos, há que criar incentivos fiscais e outros que dêem um novo impulso à regeneração da Almirante Reis, de Lisboa, do País como um todo. Aqui é que se exige políticos e políticas coerentes, sensatas, com algum racionalismo duro, o mercado faz o resto.