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Rambo II. O regresso do Calimero

Ninguém sabia dele há dois meses mas o homem não descansou e arranjou uma forma de nos aparecer, à laia de morto-vivo, não para trabalhar, mas para dizer que não o deixam entrar no lugar de onde foi suspenso. Era bonito de se ver, agora, aquele pensionista – ou será reformado? – entrar pela unidade no hospital como se não tivesse sido o homem que mais prejudicou a imagem do serviço nos últimos tempos.

O filme foi assim: ele pede para o visitar o hospital, não espera pela resposta e vai logo avisando os jornalistas para o acompanharem. Achou que iam estar à espera dele de tapete vermelho, com Madeira de Honra e tudo. Depois, fez aquilo que melhor aprendeu nestes anos: vestiu a pele de Calimero e chorou desalmadamente.

Se os jornalistas deviam ter sido expulsos? São outros 500. (Nota mental: atualizar o trocadilho, porque este faz lembrar outros tempos).

Começam a fazer sentido, finalmente, aquelas palavras do médico madeirense que no primeiro episódio desta série, desabafou que em algumas famílias da Ribeira Brava, por causa da consanguinidade muito forte existente, nasceram pessoas “especiais”. No meu tempo dizia- se que tinham um parafuso a menos. E realmente não foi difícil lembrar-me de duas ou três almas, incluindo figuras públicas, que corroboram esta evidência científica. Aliás, lembro-me logo de uma que até ia estar ao lado do seu povo. Mas ao que parece o povo não a quis para nada.

Voltando ao tema, o homem demorou muito pouco tempo a se encostar a um partido. E o partido demorou muito menos tempo ainda a se querer desencostar dele. Ainda não tínhamos decorado o nome e já éramos impelidos a esquecê-lo. Menos eu, coitada de mim, que tenho de viver com esta memória que Deus me deu e que não consigo esquecer o que quero.

A minha sorte é dormir com a porta de casa trancada, o que me dá garantias de que ele não vai aparecer sem ser convidado e nem trazer jornalistas atrás. Mas assim como o Rambo, não tenho nada de interessante para dizer.