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Quando as malas não tinham rodas

Há algumas semanas, em conversa de café, com o exemplar deste Diário em cima da mesa, que trazia na primeira página números relativamente ao turismo nesta magnífica ilha, ouviram-se algumas preocupações nos presentes que estavam mais diretamente relacionados com o setor.

Números esses que indicavam a diminuição da entrada de turistas de alguns países. Na opinião de uns, deve-se à falência de três companhias áreas de seguida, outros culpam a promoção, o governo... Cada um com o seu argumento.

No grupo estava o Saul, que anda no ramo há muitos anos e também quis dar a sua opinião:

- Pois, têm toda razão, mas o que é certo é que cada vez há mais turistas,

- Mais? Já não tenho ninguém há quatro semanas - diz o americano, que tem um Alojamento Local no sótão da casa.

- Espera, deixa me acabar. Não tenho culpa de darem o passo maior que a passada...

- Ah sim?! - intervém o Silva, que tem um restaurante - Também recebes desses tesos de mochila? Há dias pediram-me uma sopa e 2 colheres.

E volta a falar quem anda nisto há mais tempo: o Saul.

- Pois, antigamente as malas não tinham rodas mas vinham pesadas e cheias de notas. Quando chegavam ao hotel era preciso ajuda para levar para o quarto. E no restaurante havia talheres para entrada, prato principal e sobremesa. Ah! E ainda deixavam gorjeta!

- Mas agora também não têm rodas. São mochilas! - ironiza alguém.

- Isso são os teus. Os nossos cá trazem cada um uma mala com quatro rodas, mas também vêm tesos. Parece que quando eram só de duas rodas ainda vinha qualquer coisinha dentro... Quanto mais fácil, pior.

- Olha, não reclames - diz o americano. - Enquanto vierem esses, ainda vai dando algum movimento. Já viste a quantidade de palheiros que já arranjaram por aí para alugar a turistas?! Agora já não há vacas, é aproveitar...

- Pois é - volta à conversa o Saul. - Enquanto houver desgraças nos outros lados, a gente ainda pode ter sorte. Mesmo com o aeroporto fechado e a falência de companhias aéreas... Deus queira que dê sempre para todos.

- Sim - remata o americano -, mas pagar para os outros terem férias...