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Pode o conceito de Impermanência ajudar-nos ao longo da nossa existência?

Na atualidade, em que se vive numa sociedade onde o mercado orienta o comportamento do ser humano, modelo que é nitidamente gerador de desigualdade, sofrimento,- estando a classe política completamente refém desse modelo - o individualismo está instalado e o futuro da planeta não será com certeza brilhante, ganhar consciência de alguns conceitos é de extrema importância. A sociedade que deveria assentar no tripé, política, economia e ética, onde a economia deveria obedecer à política e esta à ética, continua hoje a sua caminhada para a perversão desse imperativo, estando a política e a ética submetidas à economia. É neste contexto que certos conceitos, como seja o da impermanência, podem ajudar a compreender e a adaptar a existência à aventura de estar vivo. O conceito de impermanência diz-nos que todas as coisas compostas são isso mesmo, impermanentes. “Coisa composta” é qualquer coisa que não pode ser dividida em partes, e a ciência, essa verdade transitória, diz-nos que até mesmo as partes mais ínfimas, nomeadamente no domínio da química, se vão degradando no decorrer de longos períodos de tempo. O princípio natural da impermanência simplesmente diz-nos que tudo, como sejam coisas, seres e/ou fenómenos mudam, não sendo nada estável e permanente. Algumas duram um instante, outras, muito tempo, mas nada permanece igual. Há evidentemente vários níveis de mudança, como seja uma mais visível e se relaciona por exemplo, com a mudança de clima, ou as cidades serem alvo de transformações, etc. Outra mais subtil, que está ligada aos nossos relacionamentos com a família, os amigos e até com os bens que possuímos e podemos perder. O nosso próprio corpo começa minúsculo e após crescermos, amadurecemos e morremos. Existe ainda a mudança instantânea, como sejam os instantes da vida humana. Certo é que nem uma pedra, ou uma montanha, que podendo durar mais, poderão escapar à sentença da mutação. Na vida quotidiana, ao longo dos anos, não só o nosso corpo e mente como todas as coisas estão em permanente mudança. Ao ignorarmos ou não interiorizarmos esse princípio, desejando que o que é bom e prazeroso permaneça nas nossas vidas de forma duradoura, estamos potencialmente a criar condições para que o sofrimento se manifeste, pois o mundo e as suas inúmeras relações estão em fluxo contínuo, sendo a mudança, um facto. Tal não significa necessariamente que se adote, em qualquer circunstância, uma atitude angélica de aceitação ou contemplação perante as mudanças mais ou menos impactantes que vão ocorrendo na nossa existência, mas antes encará-las munidos da compreensão da sua potencial inevitabilidade. Considerando a natureza impermanente da realidade, qualquer ser que se apegue a algo, seja a um objeto, a uma pessoa ou a um lugar, está assim semeando uma espécie de latência, quanto à possibilidade de vir a sofrer como consequência, pois só a impermanência é permanente. No entanto, a interiorização desta verdade é também e simultaneamente o reflexo da consciencialização de que há um nascer ou renascer, pois as sementes da regeneração estão na mudança e assim, as possibilidades do presente residem também elas na impermanência.