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Panamá: um momento de festa e sinal de esperança

As JMJ (2022) em Portugal juntam uma enorme oportunidade e alguns riscos. Pode organizar-se um evento sem cor

As Jornadas Mundiais de Juventude vão realizar-se em Lisboa em 2022 e serão muito além de um simples encontro religiQoso. Mais de um milhão de pessoas são esperadas na capital portuguesa, que volta a estar na rota dos grandes acontecimentos.

As JMJ querem dar protagonismo aos jovens da Igreja. É uma guerra antiga sem cessar-fogo à vista, mas este Papa, nas JMJ, não se cansa de dizer que os jovens “são jogadores de futebol num estádio onde não há bancadas nem bancos de suplentes: todos são titulares e devem saltar dos sofás cómodos de casa para o estádio da missão junto dos mais pobres”. Disse isto em Cracóvia e voltou a repeti-lo no Panamá ao afirmar que “ os jovens não são o futuro, mas o presente da Igreja”.

A viagem apostólica ao Panamá, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, foi um momento de festa e esperança. A presença alegre de jovens vindos do mundo inteiro entrelaçou-se com encontros das diversas realidades panamenhas: as Autoridades, os Bispos, jovens encarcerados, e a visita a uma casa-família. De modo particular, os jovens cristãos, formando uma sinfonia de rostos e línguas, demonstraram ser um verdadeiro fermento e sinal profético para um mundo que se revela cada vez mais incapaz de aceitar e acolher as diferenças.

“Particularmente atenta à situação dos afrodescendentes e dos jovens indígenas, a Jornada Mundial da Juventude no Panamá não poderia acontecer sem tornar visível a sua situação, porque eles representam uma percentagem significativa da população do continente, que vivem em situações de exclusão e descriminação, que os colocam na marginalidade e na pobreza”, alertou, o Arcebispo do Panamá na missa de abertura das JMJ, falando na necessidade de uma “primavera juvenil na Igreja”.

As JMJ querem dar protagonismo aos jovens na Igreja, e por isso, este Papa, não se cansou de dizer que os valores que a Igreja defende em teoria (embora nem sempre os consiga pôr em prática) são a justiça, a paz, o amor e a alegria. Ora a sociedade portuguesa (e, em particular os seus jovens) precisa de crescer numa cidadania responsável, onde estes valores são decisivos. Envolver o país todo (sobretudo as novas gerações) numa dinâmica em que estes valores sejam discutidos e assumidos pode ser um valor acrescentado das JMJ em Portugal. Há que construir um futuro com mais justiça, mais reconhecimento da riqueza na diversidade, mais acolhimento estrangeiro, mais fraternidade, mais igualdade social, mais ecologia integral, mais e melhor educação e cultura, mais compromissos de cidadania activa e responsável. E se há dimensão a não esquecer é a da lusofonia.

Disse fraternidade, e os milhares de jovens no Panamá, viveram fortemente este valor que exige também a conversão da política, dos seus objectivos e dos seus métodos.

“Se a proposta de um mundo fraterno é de origem cristã, significa que não é propriedade de ninguém, mas um apelo universal.” Muitas vezes as “fraternidades”, religiosas ou não, comportam-se como tribos de exclusão: quem é e quem não é da nossa fraternidade.

De facto, na trilogia da revolução Francesa - Liberdade, Igualdade, Fraternidade – a última parece a irmã mais esquecida. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) afirma que os seres humanos devem agir uns em relação com os outros, num espírito de fraternidade. Só esta os pode salvar.

As JMJ (2022) em Portugal juntam uma enorme oportunidade e alguns riscos. Pode organizar-se um evento sem cor, com muita festa e organização, mas sem o essencial: passar para o “planeta jovem” a urgência cristã de construir um mundo sem muros e cheio de pontes. Este é o coração do Evangelho e o foco da missão da Igreja, segundo o Papa Francisco.

“A febre de construção de muros é um atentado contra a civilização”.