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Os cowboys municipais

Em Dezembro de 2016, pela capa deste Diário, ficámos a saber que o Funchal iria ter uma polícia municipal. A certeza do anúncio contrastava com as dúvidas acerca do que tinha sido anunciado. Não se sabia quanto custaria a polícia, que funções teria, nem sequer quantos elementos seriam necessários para começar a funcionar. Afinal, apesar de nos garantirem que o Funchal ia mesmo ter a sua polícia, ainda iam estudar se a mesma era necessária. Então, a Câmara do Funchal lá gastou 50 mil euros para estudar – imagine-se – aquilo que já tinham concluído. Uma espécie de estudo feito à medida de quem o pediu. Face à magnitude da encomenda, escolheram para liderar o estudo uma empresa especializada em polícias municipais e muito próxima à cidade do Funchal. A KPMG Angola. Surpreendido? Então prepare-se para as conclusões do estudo. A primeira conclusão é de que a polícia municipal custará, no mínimo, 1.2 Milhões de euros por ano. A segunda é que a Câmara prevê ir buscar esse dinheiro aos feirantes e às esplanadas da cidade. Aos primeiros está prevista a aplicação de multas no valor médio de 600 euros, sendo que às segundas a multa média sobe para os 1400 euros. Na verdade, a Câmara do Funchal não quer polícias, quer caçadores de multas. Chocado? Então adivinhe onde é que a Câmara fui buscar o número de feiras e feirantes. À Feira da Ladra, em Lisboa. Tudo certo. Mas o mais estranho fica para o final. É que, em 2016, o Presidente da Câmara justificou a criação da polícia municipal, com a falta de fiscais municipais para conseguir fiscalizar todas as zonas de comércio. Afinal, não era preciso o estudo da KPMG Angola, bastava lembrar-se do que tinha dito e contratar mais fiscais municipais. O único problema é que assim já não podia brincar aos polícias com o dinheiro dos outros. Mas nem tudo são más notícias para os comerciantes do Funchal. A Assembleia Municipal tem a última palavra sobre se haverá, ou não, polícia municipal. E aí já todos sabemos o que vai acontecer.