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“Os baronetes das lapas”

Quando recebi a máscara de “oferta”, que custou à Região 700.000€, constatei que esta era uma burla

Em 1998 Nicolas Giudici, jornalista e professor francês, num trabalho sobre a Córsega, afirmava que as ilhas têm de si a perceção de serem centros e não periferias e que longe de reconhecerem a sua marginalidade em relação ao continente, satelizam o mundo à sua volta (consideram-se o centro do mundo), posicionando-se em resistência contra este contexto que lhes parece que as oprime.

Tomam por vezes a parte pelo todo e a sua especificidade pelo geral, considerando por exemplo que, uma resolução do Conselho de Governo, (quarentena) por muito “pia” que seja, tem mais força do que um artigo da Constituição da Républica. “lei? qual lei?”.

Tirando partido desta situação, “chicos espertos” sem escrúpulos, criam nos ilhéus uma narrativa dos bons (eles) e maus (os de fora, os cubanos), alimentando um espírito de gueto e de guerrilha contra os supostos inimigos da Madeira. Albuquerque tem Costa como inimigo. AJJ, era mais sofisticado, tinha pelo menos três: Kadhafi; a trilateral?! E o lobby gay. Tudo o que acontece de bom, é mérito do PPD-M, todas as asneiras são culpa do inimigo externo, não há consequências pura e simplesmente. A culpa, quando não se nega pura e simplesmente os factos, morre solteira, como no caso dos atuneiros que foram pescar para os Açores e como no deplorável caso dos inertes das ribeiras. Por sistema negam-se os factos, afirmando que os roubos dos inertes foram afinal apenas legítimas operações de manutenção nas ribeiras, e na orla marítima foi apenas movimentação provisória de inertes. Apesar dos mais de 20.000 funcionários, não há responsáveis pela fiscalização e vigilância do bem público. O anterior e o atual responsáveis pela SREI, dizem que não é com eles, a Secretária Regional do Ambiente, não sabe ao certo quais as competências da sua Secretaria, o que não a impede, porém, de assinalar que muitos assuntos não são jurisdição sua. É o que se passa com várias situações relativas a inertes: não são com ela.

Quando recebi a máscara de “oferta”, que custou à Região 700.000€, constatei que esta era uma burla, uma vez que não tem dimensão adequada para um adulto, também não tem elásticos (talvez sirva para bebés. Pensei inclusivamente guardá-la para a minha neta de 1 mês. Mas afinal os bebés não precisam de máscara, pois não? Nem para isso serve.) tendo denunciado no dia 12/05, por email, tal situação a ARAE. Até este momento apenas recebi deste organismo independentíssimo e isento, a confirmação da receção da minha reclamação. Resta-me apenas o M. Público que não foi regionalizado. Ó AJJ, tinha-te dado tanto jeito!

Para todos os efeitos a população madeirense representa 2% da população de Portugal e se como afirma José Prada que os madeirenses “são tão portugueses como os outros”, isto implica que, se por um lado, não podemos consentir, e bem, ser preteridos em relação aos demais portugueses, do mesmo modo não podemos exigir sermos privilegiados. O PPD-M, está a criar em Lisboa uma verdadeira alergia à Madeira. Não sei como ainda não se lembraram de nos impor a independência.

Os impostos gerados na RAM são receitas próprias da Região e são destinados a cobrir as nossas despesas, nomeadamente as dos sectores regionalizados. Com a Autonomia, ganhamos o direito a administrar as verbas, tendo para isso a ALR. A forma como gastamos o dinheiro é da nossa exclusiva responsabilidade e não podemos culpar ninguém se preferimos gastar o dinheiro em alcatrão, em vez de o fazermos no Sistema Regional de Saúde. Se optamos por financiar o Marítimo e as escolas privadas, a escolha tem sido “nossa” (do PPD-M e de quem os elegeu). Não podemos exigir é que, quando o dinheiro depois não chega para as verdadeiras necessidades, sejam os transmontanos, os algarvios ou os minhotos, com os seus impostos, que venham pagar as nossas despesas. O dinheiro não “cai do céu”, sairá sempre do bolso de alguém e terá de ser bem gerido e gasto com parcimónia. Por outro lado, as despesas respeitantes ao exercício da soberania nacional: militares, polícia, tribunais, fronteiras são, como é devido, integralmente suportadas pelo OGE.

À semelhança do que nós fazemos com as nossas finanças pessoais, trata-se não de exigir mais, mas de gastar melhor e só contrair dívida para fins absolutamente necessários.

Considero-me por igual e por inteiro português e madeirense. A incompatibilidade entre estas condições, foi criada artificialmente pelo PPD-M, para poder “reinar”. Gosto de poncha, de alheiras de Mirandela, de queijo da serra e de carne de vinho-e-alhos, de igual forma e recuso-me a escolher. A berraria sistemática que se faz há 46 contra Lisboa, sempre que esta não está pelos ajustes de nos dar mais dinheiro, serve apenas para consumo interno, para unir aquele eleitorado mais simples do PPD-M, que não dá importância ao que se passa à sua volta, incapaz de acesso a qualquer tipo de informação e de qualquer raciocínio mais elaborado, que se contenta e consome a retórica da Lisboa inimiga da Madeira e que, junto aos alvares, tudo explica e justifica.

Para Lisboa e independentemente do partido que está no governo central, 2% da população são 2%, não são 98%. Curiosamente, foi nos governos do PPD/PSD que a Madeira foi mais maltratada, nomeadamente por Cavaco e por Passos Coelho, guru dileto de Albuquerque, que nos impôs, por exemplo, o PAEF (da nossa vergonha).

Tudo leva a crer que Costa (o inimigo) através da AR, vai permitir que a RAM se endivide em cerca de 500 Milhões. Se calhar Costa teve medo da berraria do vice. Não foi com certeza por causa da negociação de bastidores, discreta, calma e cordata, que decorreu paralelamente e com outros atores. Felizmente Costa não é da área da física, senão ainda nos aplicava a Terceira Lei de Newton (ou princípio da ação e reação) - “A toda ação sempre há uma reação de mesma intensidade e direção, porém de sentidos opostos.” E nos mandava pastar caramujos, como Albuquerque faz com as câmaras não PPD.

Receio porém, que o que se está a fazer seja apenas juntar mais dívida à dívida, para nós, os nossos filhos e netos pagarem e que, Albuquerque com o dinheiro na mão, o aplique onde melhor lhe aprouver, no seu interesse eleitoral, ou no proveito dos seus amigos. Se calhar em projetos tão interessantes e ecologicamente sustentáveis como o da Estrada das Ginjas. Os AJJ e Albuquerques passam, mas as dívidas ficam.

O PPD-M sempre se caracterizou pela criação de monopólios e oligopólios, no alcatrão, no betão, nos portos, criando baronetes entre a casta dos Brâmanes. Ontem chegou a vez da criação dos baronetes das lapas.

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