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Os “abreijos” do Presidente

O Presidente dos “abreijos” já nos habitou a estar presente nos bons e nos maus momentos. Não havia necessidade!

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa começou o ano no Brasil, marcando presença na tomada de posse do novo Presidente. Uma cerimónia abrilhantada pela nova Primeira Dama, com uma intervenção em língua gestual do Brasil, que pelo conteúdo e pelo simbolismo, não nos pode deixar indiferentes.

Depois de uma campanha agitada e das posições controversas do novo Presidente, Michelle Bolsonaro poderá vir a ter um importante papel neste país que acolheu centenas de portugueses ao longo dos anos. A ligação Portugal/Brasil não precisa de grandes divagações pois todos sabemos que o lema “país irmão” aplica-se na sua plenitude.

O mesmo se poderá dizer da Venezuela como país de acolhimento de milhares de portugueses, hoje confrontado com a pobreza e a violência a níveis extremos.

O antigo presidente Maduro tomou posse ontem (dia 10 de janeiro), sem a presença de um representante do estado Português, ao contrário do que aconteceu no Brasil. Não li, nem ouvi explicação suficientemente capaz de justificar este “abandono”, por parte do Governo da República e por parte do Presidente da República. Dois países que vivem problemas semelhantes, com consequências negativas para as comunidades portuguesas, não mereceram atenção semelhante.

No caso mais grave da Venezuela, num ato oficial - ainda que seja “volta o disco e toca o mesmo”, e até por esse mesmo facto – não seria de esperar que o Estado Português marcasse presença? Em sinal de apoio a todos os portugueses que ainda sobrevivem neste território? Com o simbolismo de mostrar que está atento e que acompanha todas as suas preocupações? Com o sinal de estar em alerta para a necessidade de serem respeitados os direitos e garantias dos portugueses que lá estão?

Fui aluna do Professor Marcelo Rebelo de Sousa na cadeira de Ciência Política na Faculdade de Direito de Lisboa no ano lectivo 93/94. Tenho uma enorme admiração pelo Professor e pelo Presidente que já deixou uma marca indelével na história da democracia em Portugal. Tem estado a 500% junto dos Portugueses, com uma agenda de trabalho sem linhas para uma pausa. Esta sua ausência é estranha e poderia ter sido uma oportunidade de diálogo, no âmbito das suas funções, em benefício da serenidade da comunidade portuguesa.

Não sei se telefonou ao Maduro e sinceramente, não me causa qualquer confusão o telefonema à Cristina Ferreira. O Presidente dos “abreijos” já nos habitou a estar presente nos bons e nos maus momentos. Não havia necessidade!

Quanto ao Governo da República, neste, como noutros momentos, existe um sentimento de orfandade dos cidadãos portugueses que residem na Venezuela, e de quem reside em Portugal com preocupação pelo bem estar dos seus familiares neste país. O jogo do amuado ou da represália, não funcionará com o Presidente Maduro. É pena que a “diplomacia portuguesa” só se lembre a sério das comunidades lá fora, em vésperas de eleições!