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O Rambo Macedo e o Rocky surpreendido

Com muita pena minha, o Rambo Macedo atravessou-se no caminho das amantes e elas vão ter de esperar mais um mês. Não é grave, mas estou em pulgas para falar de algumas pessoas que querem, em Setembro, ter o seu lugar na ribalta política.

Não sei se se lembram daquela imagem do Stallone, depois de ter disparado contra meio Vietnam, sentado no chão, a fazer queixinhas ao antigo chefe, em lágrimas, a dizer a frase mais longa que proferiu em toda a sua vida cinematográfica: “They drew first blood, not me!”. A coisa foi traduzida em português como “Eles é que começaram”.

Este último mês tenho me lembrado do Stallone. De fita na cabeça, de arma na mão, o homem disparava para todo o lado e enfrentava todas as coisas más que o mundo tinha, sempre achando que o certo era ele. O médico responsável pela Unidade de Medicina Nuclear não foge muito a essa imagem que se tornou icónica e depois dos tristes episódios das últimas semanas, não me canso de imaginá-lo como protagonista do filme de 1982 que, tal como agora, prendeu a atenção de todos.

Não sei se o homem tem razão e muito menos sei quem vai sair magoado desta história, mas sei que há sempre dois lados da história. Que a unidade de Medicina Nuclear teve forte oposição do Conselho de Administração da altura, bem me lembro, uma vez que tinha sido assinado o acordo anos antes com o setor privado e haveria duplicação de serviços, mas também me lembro de um Rocky Balboa do hospital, (que também brigava com toda a gente), ter levado a sua avante.

Chegamos a isto, infelizmente. Com perdas desnecessárias de dinheiros públicos, porque ainda ninguém explicou ao certo quanto é que isto tudo custou durante estes anos todos, mas também ainda ninguém conseguiu perceber porque é que se fez uma unidade pública tendo já assinado anteriormente um contrato com o privado que vigora até 2024.

Enquanto o Rocky incita o Rambo a fazer destroço e se finge surpreendido, o povo assiste, cada vez mais confuso, ao filme dos acontecimentos, com um desfile imparável no parlamento. É bom que se chegue ao final disto em tempo útil, para sabermos ao certo quem é que deu o primeiro tiro, ou o primeiro soco. Não gosto nada de pagar bilhete e sair sem perceber patavina da história, mas temo que, aqui como na saga, ainda vamos ter parte II, III e IV. E assim, enquanto nos entusiasmamos com a história da carochinha que nos querem contar, o Rocky, que afinal gosta mesmo é que se lembrem dele, vai aquecendo os dedos e pondo as luvas para os próximos combates. O Rambo vai continuar a ser um herói para o povo anónimo, afastar toda a gente, acabar sozinho a chorar e a dizer “eles é que começaram”.