Artigos

O Império Português e 600 anos de encantos

O “auto de moralidade” virá nas opções eleitorais do próximo ano. O resto é capa de revista

Na semana em que a Força Aérea Portuguesa evitou uma tragédia nos céus da nação portuguesa, temos motivo para renascer o orgulho da alma lusa e dar vivas a todos os intervenientes. Muito Beeeeeem!!!

Por falar em orgulho da alma lusa, vem à memória a História e a dimensão do império português. As duas jóias da coroa, entenda-se as ilhas do Atlântico, simbolizam a aventura dos descobrimentos o que justifica a envolvência da nação nas celebrações dos 600 anos de encantos!

Para alguns, estranhamente, este feito, em vez de constituir motivo de orgulho da alma lusa, por tantos motivos, mas também, por um passado longínquo de sucesso, não raras vezes, em tempos modernos da dita democracia, são um mero capricho pessoal eleitoral.

Mal sabia o capitão donatário João Gonçalves Zarco que voltas teríamos nos séculos seguintes. Quantas voltas tem dado no túmulo ao ver que hoje temos um Funchal que passou a ser uma ilha, dentro de outra ilha. Sobre isso, falarei noutra ocasião.

Com a proximidade de 2019, parece-me oportuno relembrar o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. As personagens criadas bem podem ser transportadas com as devidas adaptações, nalguns casos, para os dias de hoje.

Imagine-se o Porto de Lisboa com duas embarcações, uma para o paraíso, outra para o inferno. O Anjo e o Diabo disputam a clientela.

O “enforcado” permanece em cena para representar a má conduta dos deputados do parlamento nacional, incluindo os que pintam as unhas.

O “frade” igualmente deve manter-se em cena para representar os maus cristãos.

A “alcoviteira” tem lugar garantido e se dúvidas houver, basta assistir a determinados programas nas televisões portuguesas.

O judeu que representava os infiéis à fé cristã, passa a ter o papel de representante dos infiéis à causa pública.

A estes juntam-se alguns líderes de algumas claques desportivas e as cúpulas das praxes académicas, todos engenhosos em práticas abusivas e rituais impróprios para o respeito da condição humana.

Os “cavaleiros” que representavam as cruzadas contra os mouros podem entrar em cena como representantes dos cidadãos severamente prejudicados pela luxúria da banca e dos banqueiros.

O “fidalgo” passa a representar os nobres e burgueses abastados de ideias peregrinas. Governantes que não tiveram legitimidade popular para governar.

Por último, mas o primeiro a entrar em cena, o “parvo” que personificava o povo português dessa época, deve continuar como o representante dos cidadãos e das cidadãs. Não do “povo”, reles classe social, mas sim dos cidadãos e das cidadãs.

O “auto de moralidade” virá nas opções eleitorais do próximo ano. O resto é capa de revista.