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O estado (pós-geringonça) da “coisa”

Na verdade, a próxima legislatura afigura-se “penosa” para Comunistas e Bloquistas

Com os resultados das últimas eleições e com a composição do novo (?) Governo – que conserva as “peças” essenciais do anterior – António Costa parece ter criado condições para se tornar o mais poderoso e incontestado Primeiro-Ministro do pós-25 de Abril.

O que se deve quer à sua “mestria” política, quer ao desnorte da Direita, ensaiados e testados – cirurgicamente – no âmbito da “crise dos professores”, um episódio que permitiu a Costa a proeza de incumprir uma promessa, culpar a oposição por uma eventual situação de instabilidade política e de desequilíbrio das contas públicas, e, ao mesmo tempo, manter a “aura” de combatente das políticas de Direita e de austeridade.

Sendo certo que a Direita “foi na cantiga”, revelando incoerência e perdendo a única/real oportunidade que teve para debilitar António Costa e o seu Governo, bem como para demonstrar aos Portugueses que, afinal, também sabe distribuir dinheiro sem pensar nas consequências, aptidão que, como é sabido, é a que mais votos rende no nosso país.

Assim, percebe-se porque é que Costa e o PS nunca pediram uma maioria absoluta, mas sim uma “vitória clara”. Com esta, puderam livrar-se do “espartilho” da geringonça – que foi apenas um instrumento para tomar o poder sem ganhar eleições –, sem a primeira “sequestraram” a esquerda radical e antidemocrática e semearam o “pânico” na Direita.

Na verdade, a próxima legislatura afigura-se “penosa” para Comunistas e Bloquistas. Se com uma maioria absoluta estes (também) ficariam afastados do centro de decisão, mas sempre poderiam fazer oposição de forma livre, sabendo que a mesma não teria consequências práticas, não havendo maioria absoluta ficam condionados, pois, caso “se portem mal”, serão acusados de querer acabar com “o milagre Português de esquerda” e abrir a porta ao regresso da Direita e da austeridade.

Para além do mais, se os anteriores Governo e Programa do PS foram tão bons – ao ponto de sustentar uma união de facto harmoniosa –, como poderão as respectivas “réplicas” ser contestadas? E como poderão criticar os mesmos Ministros (também “seus”) que suportaram durante os últimos 4 anos?

Por sua vez, à Direita os sintomas também não são encorajadores. A atravessar uma profunda crise de identidade e a demonstrar total incapacidade de adaptação aos “novos tempos”, a mesma parece não saber como fazer oposição e, acima de tudo, conquistar a confiança – e os votos – dos eleitores.

Por um lado, porque continuam – e com razão – a não perceber os motivos pelos quais os Portugueses gostam mais daqueles que trouxeram a Troika do que daqueles que a mandaram embora, PSD e CDS não conseguem gerir a “herança” de Passos Coelho, e tentam, a todo o custo, esconder o ideário de Direita e – idealmente – de pendor liberal que verdadeiramente os distancia do PS e que constitui a única alternativa credível ao modelo que tem levado Portugal de bancarrota em bancarrota.

Por outro lado, o PSD e o CDS continuam a não saber – ou a não querer – interpretar as causas que levaram mais de 50% dos Portugueses a absterem-se, e cerca de 17% dos que votaram a optar por partidos “diferentes”, alguns deles sem ideologia (ou ideias) e outros neofascistas. Em concreto, não se conseguem mobilizar para encontrar líderes carismáticos e capazes de criar uma “vaga de fundo”, nem para adoptar um discurso que seja apelativo para os jovens e disruptivo para os insatisfeitos, continuando imergidos na “partidocracia” que ditou o afastamento dos eleitores da política e a descredibilização da classe política e dos partidos ditos “tradicionais.”

Por tudo isto, temos “via verde” para António Costa e para o PS e a garantia que, estruturalmente, nada mudará em Portugal nos próximos 4 anos.