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Novas oportunidades no mar e na ciência?

O governo dos Açores há muito que catalisa o seu esforço numa Secretaria do Mar, Ciência e Tecnologia. Na sua página oficial podemos conhecer as suas principais competências incluindo as pescas e a aquicultura, a exploração oceanográfica, o licenciamento de usos do mar e dos seus fundos, as orlas costeiras e a cooperação com a Polícia Marítima. Esta Secretaria coordena também as políticas de Ciência e Tecnologia na Região e o relacionamento com a Universidade dos Açores.

Ora nada mais lógico do que uma Região irmã como a Madeira criar um espaço semelhante no seu (novo) executivo. Peca pela demora, mas esperemos que isto não seja “um leão a imitar um leão para se tornar num macaco” (citando Victor-Marie Hugo). No meu entender, devemos refletir nalgumas oportunidades que já foram apresentadas, que ainda são válidas, mas que estão por concretizar.

A criação de um Instituto (único) de Ciência e Tecnologia da Madeira que congrega as principais áreas de estudo que poderão contribuir para o desenvolvimento da Região continua a ser uma das grandes oportunidades para o futuro da Madeira. A tutela desse instituto deve ser partilhada com a Universidade da Madeira, e tal como está configurado na Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação (ARDITI), este deve considerar a participação das principais empresas Regionais, bem como de todos os centros de inovação (incluindo a ‘Start Up’ Madeira). Este Instituto abrirá também oportunidades para a criação de carreiras de Investigação, pela primeira vez na Região, de forma a atrair talentos e evitar o ‘brain drain’. Porque os recursos são sempre limitados, todas as necessidades técnico-científicas, de todas Secretarias, devem resultar no apoio a este instituto; quer por via de prestação de serviço, quer por via de contratos programa. Devem ser abolidas as consultorias externas em assuntos de interesse para a Região, e que contribuem para descapitalizar o investimento efetuado na criação de competências técnico-científicas Regionais. O Instituto deve primar pela meritocracia tanto no recrutamento dos seus recursos humanos como no seu desempenho, e a sua competividade internacional deve estar refletida na capacidade para atrair financiamentos externos. Só assim, e a prazo, conseguiremos atingir um nível (mínimo) de reconhecimento digno de Região Europeia desenvolvida.

No mar tivemos também algumas oportunidades perdidas, o Observatório Oceânico da Madeira (OOM) surgiu em 2015, muito antes de se falar no ‘AIR – Atlantic International Research Center’, e/ou do recém fundado ‘Observatório do Atlântico’, ambos com sede nos Açores. Tivesse o Governo Regional da Madeira acreditado na sua própria iniciativa nós ter-nos-íamos afirmado mais a nível nacional, abrindo mais espaço na conjuntura internacional. Assistimos à fragmentação do investimento na área das ciências do mar com o financiamento avulso de algumas ‘capelinhas’ e mais recentemente na substituição das principais funções do Observatório, particularmente com uma Secretaria a dinamizar campanhas de mar. Ora se todos podemos fazer o mesmo para quê criarmos instituições de referência? A Madeira é pequena, os recursos são escassos, as instituições são frágeis, por isso é fulcral concentrar o investimento.

Faço votos para que a liderança desta nova Secretaria tenha um visionário/a, que não ignore ou abandone o esforço que já foi efetuado e que tenha a capacidade de ouvir todos os intervenientes. Bem haja os responsáveis por esta iniciativa!