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Nova Bolha Imobiliária

Uma viragem do ciclo económico nesta fase, seria como deitar gasolina numa fogueira quase extinta

A redução dos estímulos monetários do Banco Central Europeu está presa por uma inflação que não estabiliza por se encontrar muito afetada por taxas de desemprego ainda elevadas. Enquanto não verificarmos reduções nos níveis de desemprego na Grécia, Espanha, Itália e França, continuarão a persistir pressões nos preços que não vão permitir que a inflação se estabilize e que o BCE comece a reduzir os estímulos monetários de uma forma efetiva.

Durante os últimos anos, a política monetária europeia adotada, só fez com que os estados economicamente mais débeis, como é o caso de Portugal, tivessem acumulado demasiada divida, motivados pelos níveis extremamente baixos verificados nas taxas de juro. Mas o problema não está só nos estados. Durante esta última década de dinheiro barato, as empresas e os portugueses contraíram mais dívida do que nunca e simultaneamente foram perdendo a motivação para amortizar dívida. O resultado é fácil de aferir, num mercado como o Português, onde o investimento das famílias recai normalmente sobre o sector imobiliário. O atual ciclo económico favorável, o maior número de compradores estrangeiros, a facilidade de acesso a financiamento, bem como a falta de atratividade das taxas de remuneração das poupanças, levaram a um aumento na procura que rapidamente se está a transformar numa bolha especulativa.

O problema não está só nas famílias portuguesas que vêm a sua taxa de esforço agravada, mas também nas empresas que mantêm níveis muito elevados de dívida (um dos maiores da zona euro) e que tem tendência a se agravar porque custos de financiamento continuam muito baixos. Num contexto de aumento de taxa de juro ou de inflexão do ciclo económico, as consequências podem ser relevantes porque as empresas encontrar-se-ão num contexto de baixo crescimento e as famílias num ambiente de potencial perda de rendimento.

Parece-me que a preocupação não deverá vir do aumento das taxas de juro. Dificilmente veremos uma subida significativa nas taxas de juro de referência, uma vez que o BCE só deverá aumentar a taxa de juro no segundo semestre de 2019, e o deverá fazer de uma forma muito gradual.

Parece-me sim, que o problema poderá vir de uma provável viragem no ciclo económico norte-americano, que dependendo da sua dimensão, poderá contaminar a economia europeia que por ainda se encontrar muito débil, poderá voltar a cair numa profunda recessão. Uma viragem do ciclo económico nesta fase, seria como deitar gasolina numa fogueira quase extinta. As semelhanças relativamente a 2008 são algumas e temos todos muito presente qual a dimensão das suas consequências. É muito importante trazer este debate a público, porque estou em crer que ainda vamos a tempo de limitar os danos. Penso que novas medidas macroprudenciais mais restritas impostas pelo Banco de Portugal, como medidas de proteção aos inquilinos e de maior incidência fiscal no alojamento local das principais cidades do país, poderiam ajudar a travar um pouco o ritmo do crescimento dos créditos hipotecários e do preço dos imóveis que têm vindo a acumular taxas de crescimento na ordem dos dois dígitos.