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Não havia ilha na peste...

A pandemia provocada pelo COVID-19 veio persuadir-nos “de que não havia ilha na peste”. A expressão é de Albert Camus, no seu livro A Peste. Escrito em 1947, diante de cada página daquele romance lida nestes dias de 2020 somos confrontados comos os problemas do confinamento social, do fecho de fronteiras e da suspensão de atividades económicas, dos drama das febres e das fomes e da “igualdade irrepreensível da morte”, vivências tão nossas e de hoje, assim como também fazemos a experiência de que em nada resolve murar a ilha ou a cidade para se isolar do vírus e da morte.

Tal como acontece em A Peste, hoje, nos dias da pandemia contagia-nos uma cultura do medo, vivemos dias em que “o hábito do desespero é pior que o próprio desespero”. O medo é alimentado, intensivamente, de modo a afastar toda a esperança, como a fazer querer-nos abandonados à peste. E sem esperança as pessoas instalam-se no presente, na rotina do flagelo, numa vida que “não era mais que uma paciência sem futuro”. A cidade ou a ilha povoada por “adormecidos-acordados” aceitava tudo em bloco, resignadamente!

Também hoje, com novas expressões, vivemos sob o risco de ressurgimento da peste do fascismo, desse “marcar-passo interminável e sufocante”.

A Peste, escrita numa atmosfera em que países europeus eram dominados pelo fascismo, tem como contraponto o invocar a memória, neste 9 de maio, do Dia da Vitória, dos 75 anos da derrota sobre o nazi-fascismo. Comemorar a Vitória é rejeitar a resignação e o medo perante as injustiças e os perigos que emergem. É edificar caminhos de liberdade contra a ameaça da peste do fascismo.

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