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Nacional – preto no branco

Não concordo nem apoio quem faz do Nacional um protagonista de cenas tristes a cada jornada

Falando claro, preto no branco, o Nacional está doente e em fase pré-terminal. Uma doença que há muito foi detectada mas que se tem vindo a tentar esconder, em tons de cinza, sugeridos por uns, porque lhes dá muito jeito, e, por outros porque a emoção e o coração sofrem em demasia. Qualquer que venha a ser o desfecho da época desportiva da equipa de futebol profissional, mantendo-se sofridamente na Primeira Liga ou voltando a descer como há duas épocas atrás, a questão essencial e a causa verdadeira reside na incapacidade que a gestão do clube tem vindo a evidenciar de há alguns anos a esta parte. O regresso à Primeira Liga, lugar natural de um Clube com a história, estrutura e apoios que o Clube Desportivo Nacional dispõe, acabou por ser um disfarce perigoso que não contribui para aquilo que verdadeiramente importa, o reforço urgente de competência profissional e organizacional, que se exige nos tempos de hoje a qualquer estrutura na alta competição.

Não cabe, nesta curta nota, descrever as razões do desastre que se anuncia. Mas importa deixar claro que as responsabilidades não são exclusivas. A “culpa”não é apenas o status quo, dormente e incompetente, incapaz de perceber a mudança e a necessidade de se prestar a um serviço em nome de um colectivo, uma história e um ideal comum, agindo como verdadeiros “donos de uma quinta”. Por incompetência e interesse próprio agarram-se a mitos e incapacidades quando deveriam procurar trabalho e competência, sobretudo numa indústria, o futebol, que mudou radicalmente nos últimos anos. O futebol profissional, hoje não é algo compatível com a gestão entre “amigos da vida airosa”, ou das palmadinhas nas costas e joguinhos debaixo de mesas decoradas com fruta nocturna. Isso acabou mas há quem se mantenha atordoado por pancadas noctívagas sem conseguir acordar para a realidade, que exige competência, trabalho, profissionalismo e capacidade. Uma roda de amigos e submissos não consegue dar conta da exigência de um negócio que movimenta milhões e de uma competitividade que não contempla amadorismos e “chico-espertos”.

Mas são igualmente responsáveis os mansos. Os que em vez de assumir o seu papel de accionistas e verdadeiros donos do clube, antes preferem os paninhos quentes. Milhões, gerados pela presença e direitos adquiridos mas igualmente retirados dos dinheiros públicos de uma sociedade que ainda carece de muitas outras coisas fundamentais, exigem mais competência, maior profissionalismo e seriedade. Um clube como o Nacional não pode depender de incompetentes suportados por mansos. O Nacional tem uma responsabilidade enorme, quer para com a sua história, quer perante o momento actual, de onde saem milhões em seu favor para se esbanjarem em incompetência gritante que se assiste, a cada domingo, na sua faceta mais visível, mas que resulta da incompetência quotidiana. Não vale a pena tapar o sol com uma peneira. Veja-se o que aconteceu ao União e adivinha-se o que se espera para o Nacional.

Este é o tempo, como sempre o foi na longa história do Nacional, de colocar o preto no branco. Quem acha que podemos continuar no cinzento, é tão responsável como os que, pagos para trabalhar, nos conduzem com a tranquilidade e normalidade com que um coveiro conduz um cadáver para a cova.

Eu estou contra, eu sou contra. Não concordo nem apoio quem faz do Nacional um protagonista de cenas tristes a cada jornada. O Nacional merece melhor. O Nacional é muito melhor do que isto. E não aceito que só no Verão se possa falar e querer que se seja melhor. Não me importo de ser o único, de estar contra a corrente ou contra a maioria que entende que estamos bem e que o melhor é estar calado. Lamento mas não posso assistir a este desastre sem dizer que não estou de acordo. E esta opinião em nada diminui o meu empenho e gosto pelo Nacional nem aceito chantagens, pressões e julgamentos em jeito de comunicados de pretensos donos de qualquer nacionalómetro ou de imberbes deslumbrados. Esta é a minha opinião, vale o que vale mas é clara, preto no branco.