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Na política e na vida

A corrupção é claramente uma evidência da “não política” e os corruptos que se servem da política para seu próprio interesse não deveriam ter possibilidade de ser entendidos como políticos

A atitude define a pessoa, caracterizando-a no pensamento e no comportamento.

Tudo aquilo que nos move tem uma razão de ser. Muitas vezes de forma explícita, noutras nem tanto, ficando a razão no fascínio do mistério da vida.

Acredito que aquilo que somos resulta de um processo que nos transcende mas, fundamentalmente, da construção que realizamos ao longo da nossa existência.

Neste percurso, colecionamos momentos, registamos experiências e guardamos memórias. Tudo isto faz de nós uma reação a qualquer coisa.

A qualidade, entenda-se as características daqueles (momentos, experiências e memórias) influencia, determinantemente, a forma de sermos, como vivemos e como contribuímos para a construção da sociedade, como organização da humanidade.

Na maravilhosa caminhada da vida temos a oportunidade de rever importância, porque marcante na história, no comportamento ou na atitude, em pessoas que transformamos, porque assim o entendemos, em referências.

São os bons ou maus exemplos, é aquilo que desejamos ou não desejamos, é aquilo que representa muito ou quase nada. Tudo muito importante para a nossa própria definição.

Aqueles com quem não nos identificamos, alguém sabedor, entendeu chamar de “anjos da evolução” querendo comunicá-los como o exemplo a não seguir e cuja existência se justifica apenas para que a nossa opção não seja aquela. Por outras palavras, é a possibilidade de tomarmos conhecimento sem ter que experimentar, ou, como nos deixa o conhecimento popular, significa, tão simplesmente, aprender com os erros dos outros.

Aquelas que são as grandes referências - diria as positivas - convocam-nos para aprofundar a nossa atitude de acordo com as boas práticas que as identificam.

Muitos e grandes nomes da humanidade têm merecido esse reconhecimento que não pode ser maior quando a razão do mesmo é desejada por nós próprios.

Na religião, na cultura, na economia, na sociedade, no desporto ou na política, a história reserva-nos felizes e extraordinárias opções.

Complementarmente, o facto de cada um de nós se rever numa determinada pessoa permite dar a conhecer quem somos e o que nos move.

Identificar-se com a bondade de alguém permite-nos focar nos outros e na vontade de ajudar quem mais precisa. Eleger a bravura e a dedicação de alguém, conduz-nos à determinação e à afirmação do desejo da conquista. Premiar a capacidade de alguém, faz-nos acreditar na nossa evolução e no nosso desenvolvimento. Rever-se na persistência de alguém, faz-nos acreditar e permite-nos tornar mais fortes ao vencer as dificuldades.

São tantos os exemplos quanto as diferenças que existem entre cada um de nós.

O exercício da política é complexo, pois coloca em jogo tantas referências quanto as necessidades das pessoas a quem se serve.

Corresponder a todas é difícil e agradar à totalidade é impossível, porque existem diferentes níveis de necessidade e tantas preferências em simultâneo quanto o espaço da própria liberdade.

Por esta razão, da complexidade, a política representa o palco mais exigente de atuação, onde a atitude dos políticos deve afirmar-se na essência da própria política, ou seja, no servir os outros.

Esta entrega que tão bem dignifica a política significa um desprendimento “do meu” para uma lógica do “nosso”, onde a prioridade é o interesse comum, renegando a importância do próprio.

Se os bons exemplos são facilmente esquecidos, tomemos, à contrário, algumas evidências.

A corrupção é claramente uma evidência da “não política” e os corruptos que se servem da política para seu próprio interesse não deveriam ter possibilidade de ser entendidos como políticos, pois são a sua própria negação.

Infelizmente, temos muitos exemplos à nossa volta, no mundo e também em Portugal. Não é comum ver-se um ex-primeiro-ministro preso ou arguido por corrupção, envolvido em processos de milhões e milhões de euros. Não era comum mas também temos ex-ministros condenados e presos por más práticas, ou indiciados por ilícito favorecimento de alguns que os beneficiavam em particular.

São muitos os casos que nos alertam diariamente para aquilo que não presta e que chegando à política serve-se dela sem pudor, transformando-a na antítese de si mesmo.

A dignidade da política merece muito mais e muito melhor.

Assim como na vida, onde as referências resultam dos contributos deixados, na política só devem merecer ser “políticos” aqueles que se constroem como exemplo porque colocados ao serviço dos outros, desprendidos do oportunismo e despojados de intenções particulares, suas ou dos seus.

Na vida como na política a atitude define a pessoa e pode fazer dela merecedora de admiração e reconhecimento.

Predominando as boas referências, resulta maior a possibilidade de evolução de toda uma população, o crescimento do seu nível de educação e, simultaneamente, o aumento da exigência que é colocada sob quem se propõe servir os outros.

Aquilo que é certo para a vida é também certo para a política e os maus exemplos na vida nunca resultam em boas referências na política.

Por sua vez, aquilo que se faz na política pode ser tão grande e capaz de influenciar a vida, mesmo em dimensões para além da referência política.

No fundo, na vida e na política, a atitude é que determina a qualidade da pessoa e será essa a característica que poderá fazer da mesma uma referência como exemplo a seguir, como comportamento a respeitar ou como influência a desejar.