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Menos conversa, mais clima

A Madeira, região pequena, isolada, ultraperiférica, com muitas limitações e carências, foi pioneira e inovadora na avaliação e no desenvolvimento de um modelo de cenários de alterações climáticas adaptado a ilhas pequenas

De novo, por ocasião de mais uma reunião no âmbito da Conferência das Partes da Convenção sobre as Alterações Climáticas, neste caso a 25ª, em Madrid, assiste-se a muitas e diversificadas posições em favor do desejo, cada vez mais apoiado, de fazer um planeta mais resiliente e capaz de enfrentar os desafios do clima. É, sem dúvida, muito importante, ir conhecendo a consolidação dos modelos de previsão e a sua capacidade de revelar com maior acuidade a miríade de vectores que contribuem para a realidade climática, seja à escala global seja local.

Para o cidadão comum, a “conversa” mediática destes momentos carece de utilidade por não acrescentar muito ao nível da actuação concreta, individual, excluindo a sua prestação enquanto consumidores responsáveis, na escolha de produtos, bens e serviços, sempre que disponíveis, mais responsáveis e sustentáveis.

Já menos positivo e motivador é ver e ouvir ditos investigadores a nada acrescentar ao que já há muito se sabe, em vez de propostas objectivas, mensuráveis e ajustadas a problemas e desafios concretos do nosso dia a dia. Vem isto a propósito de notícias que dão conta da repetição, como se de novidade se tratasse, do que se sabe há muito, sobre os cenários relativos às alterações climáticas para o arquipélago da Madeira. Desde 2006, ou seja, há pelo menos 13 anos, sabe-se, com base em todos os dados históricos disponíveis e suportados por um modelo original e exclusivo para realidades insulares de pequena dimensão, quais são os cenários esperados para as variáveis mais importantes no que respeita a alterações climáticas neste arquipélago. Menos chuva, mais concentrada no tempo e maior diferença entre as precipitações esperadas em função da altitude e exposição (Norte-Sul) a par de um crescimento da temperatura média com um aumento da frequência de noites tropicais. As implicações destas tendências para os sectores da água, energia, saúde humana, pescas, agricultura, biodiversidade e turismo, igualmente, foram elencadas há pelo menos 13 anos! Não sendo negativo recordar estes cenários, é contudo limitador, apresentá-los em 2019, como se fossem novidade. Se calhar até é um espanto, para quem possa considerar que o Mundo e a realidade passaram existir em função da sua própria existência. Não! A Madeira, região pequena, isolada, ultraperiférica, com muitas limitações e carências, foi pioneira e inovadora na avaliação e no desenvolvimento de um modelo de cenários de alterações climáticas adaptado a ilhas pequenas. Foi a partir desse cenário que posteriormente se elaborou e aprovou uma estratégia de adaptação às alterações climáticas que, como é referido, e muito bem, por quem detém a máxima responsabilidade na condução e seguimento da sua implementação, é “uma ferramenta fundamental para responder e apoiar as políticas do Governo que exijam um enquadramento para responder de forma concertada e célere aos impactes decorrentes das alterações climáticas”. O tempo é, pois, de acção. A conversa está feita e bem enquadrada e é, agora, tarefa de todos, assumir as acções que lhes cabem, acrescentando valor, efectividade e capacidade à Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas, Estratégia CLIMA-Madeira. A conversa, a fazer-se, seria então a partir dos resultados, da avaliação do que dizem os indicadores entretanto obtidos, das lições aprendidas, da redefinição de velocidades e ajustes de prioridades e, talvez ainda mais importante, naquilo que se pode fazer para que as acções e a Estratégia não se fiquem por um carácter sectorial e que seja internalizada e integrada de forma inclusiva e comprometida, por todos.