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Mayra, gosto de ti... e da outra pequena

Estou cheia de medo da Comissão Nacional de Eleições. Não posso escrever sobre os meus amigos políticos, um dele louco para me apertar o gasganete, porque escrevo sobre médicos e não falo no seu nome. Azarinho, o tipo ainda me mandou uma mensagem a perguntar porque eu não escrevia sobre o Rambo III quando falei das horas extraordinárias na última crónica. Que mania de ser vaidoso que o tipo tem. Eu passo muito bem sem ele, mas parece que ele não passa bem sem mim.

Bom, já que não posso falar de política, porque estou cheia de medo da CNE, vou falar de mulheres. De mulheres com os ditos no sítio, para quem nadar uns míseros 42 quilómetros é como ir tomar o pequeno-almoço à pastelaria da esquina. A Mayra, que eu não conheço pessoalmente, devia ser uma inspiração para muitas de nós, que a aplaudimos desde as nossas salas, sentadas nos nossos sofás.

Usamos desculpas para tudo. Para a falta de tempo, para a falta de vontade, para a falta de inspiração. Cedemos ao ócio. Adiamos o ginásio, enfiamos o passeio na levada numa gaveta e jogamos fora a chave. Temos os filhos, que mesmo que tenham 20 anos servem de desculpa, os pais, os cães e os gatos, mas não temos força para no final do dia irmos ao cinema, porque achamos que os nossos maridos vão morrer de sede, porque nunca foram à cozinha buscar um copo com água e nem sabem abrir a torneira. Hoje sou feminista, sim, não sei se a CNE vai pegar com isto, mas queria elogiar as mulheres que, como a Mayra, perseguem os seus sonhos. Gostei quando ela disse que desistir nunca foi opção. Gostei mesmo da energia com que dançou samba dentro da lancha depois de ter nadado aqueles 42 Kms que ela fez parecer 42 metros.

Gostei de ver que foi aqui, nesta terra de brandos costumes e broncos candidatos, mesmo com canudo, que uma mulher nos pôs durante um dia inteiro a pensar no que conseguimos fazer quando queremos. E nesta altura, em que se comemora o aniversário do concelho da Ponta do Sol, onde guardo orgulhosamente todas as raízes maternas, orgulho-me da mulher que conseguiu, pela primeira vez na história desta terra, ser eleita diretamente presidente da Câmara. Não vai ao ginásio, quase não vai ao cinema, nem sequer pisa o Funchal onde viveu durante muitos anos. Mas quando passo debaixo da janela do seu gabinete, às vezes já a lua vem alta e o sol proporcionou há muitas horas aquele cenário maravilhoso do entardecer, a luz está acesa, a porta da varanda aberta nas noites quentes e as esplanadas em baixo cheias de pessoas a divertir-se, enquanto também ela corre pela sua causa, em terra seca.

Ah, quem me dera conhecer mais mulheres como a Mayra e a Célia. Não sei se podia dizer o nome dela, mas raios me partam, ainda somos tão poucas...